Quando
acordo de manhã
Abro a
janela pró mundo
E vejo gente
a correr
Numa corrida
de fundo
Tomo banho,
lavo os dentes,
Faço a barba
devagar
Saio prá rua
e deparo com
Pessoas sem
falar.
Olhos as
gentes bem nos olhos,
Que é sitio
para se olhar
E o que vejo
faz-me triste,
Mortos vivos
a andar
Saio prá
rua, dou-me conta
Que viver é
só um sonho
Vou à tasca
lá da esquina
Peço um café
e um medronho
Tanta gente
em corrida,
Em corrida
para a morte
E eu a
vê-los passar,
Sou um tipo
cheio de sorte
Nada tenho,
nada quero
Basta puder
respirar
Um café e um
cigarro
Um quarto
para sonhar
Ao trabalho
não me agarro
Não gosto de
me arrastar
Numa vida
miserável
Sem nada
para cantar.
Saio pra
rua, dou-me conta
Que viver é
só um sonho
Vou à tasca
lá da esquina
Peço um café
e um medronho
Passa por
mim um janota
Tipo cheio
de sucesso
Dentro de
uma fatiota
Num fato que
parece gesso
A mulher
abana o cu
E ele
tresanda a dinheiro
Entra no seu
subaru
É dono do
galinheiro
E assim se
passam anos
A correr sem
respirar
A vida
vai-se plos canos
Até a morte
chegar.
Saio pra
rua, dou-me conta
Que viver é
só um sonho
Vou à tasca
lá da esquina
Peço um café
e um medronho
Chega a hora
do almoço
É só tetas a
dançar
Viro mais
uma cerveja
Perco-me no
meu sonhar
E miro
aquela mole de gente
Que caminha
sem parar
Ao encontro
de outro dia
Em que nada
vai mudar
E assim se
arrastam na vida
Sem nunca
saber que fazer
Pra
despertar em pleno
E celebrar o viver.
Manuel F. C.
Almeida