segunda-feira, outubro 17, 2016










Quando acordo de manhã
Abro a janela pró mundo
E vejo gente a correr
Numa corrida de fundo
Tomo banho, lavo os dentes,
Faço a barba devagar
Saio prá rua e deparo com
Pessoas sem falar.
Olhos as gentes bem nos olhos,
Que é sitio para se olhar
E o que vejo faz-me triste,
Mortos vivos a andar

Saio prá rua, dou-me conta
Que viver é só um sonho
Vou à tasca lá da esquina
Peço um café e um medronho

Tanta gente em corrida,
Em corrida para a morte
E eu a vê-los passar,
Sou um tipo cheio de sorte
Nada tenho, nada quero
Basta puder respirar
Um café e um cigarro
Um quarto para sonhar
Ao trabalho não me agarro
Não gosto de me arrastar
Numa vida miserável
Sem nada para cantar.

Saio pra rua, dou-me conta
Que viver é só um sonho
Vou à tasca lá da esquina
Peço um café e um medronho

Passa por mim um janota
Tipo cheio de sucesso
Dentro de uma fatiota
Num fato que parece gesso
A mulher abana o cu
E ele tresanda a dinheiro
Entra no seu subaru
É dono do galinheiro
E assim se passam anos
A correr sem respirar
A vida vai-se plos canos
Até a morte chegar.


Saio pra rua, dou-me conta
Que viver é só um sonho
Vou à tasca lá da esquina
Peço um café e um medronho

Chega a hora do almoço
É só tetas a dançar
Viro mais uma cerveja
Perco-me no meu sonhar
E miro aquela mole de gente
Que caminha sem parar
Ao encontro de outro dia
Em que nada vai mudar
E assim se arrastam na vida
Sem nunca saber que fazer
Pra despertar em pleno
E celebrar o viver.


Manuel F. C. Almeida

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