sábado, dezembro 28, 2019

























Na sedutora tela do olhar
Criei uma imagem
Onde as mãos e os dedos
Cantam a difusa forma
Dos corpos
E adivinham o sal que escorre
Da pedra e se transmuta em
Diamante.
Semente líquida de rubro
Desejo, transparente tela de fogo
Onde o meu coração jaz,
Como uma flor no deserto
Num encanto mágico
De silêncios.

Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, dezembro 04, 2019


















Do fundo da alma alguém te chama
E te ilumina o caminho. O seu corpo exala
O perfume dos tempos, como as estações
Do ano te recordam a condição humana
E os sons próprios da magia de acontecer.
Sentes a solidão, rodeado de caras estranhas,
Repetidas… e um dia a dia vivido na desolação
Da cegueira e da saudade.
A beleza do caminho é festejada por milhares de
Borboletas incandescentes, com todas as cores
Do universo que um dia tiveste na mão e que
Soltaste livre, como tudo o que se ama na verdade.
E a voz da tua alma cala-se, és tu que trazes luz
Ao caminho.

Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, novembro 04, 2019

















Surgiste um dia sem temor
De cabelo solto, engalanado
Tomei-te o corpo, ainda em flor
Perdi-me em ti, apaixonado.

Mas tudo tem tempo de acontecer
Tudo é infinito quando dura
Mas a paixão tende a esmorecer
Como pedra quando a agua a fura

E se tudo tem um momento pra florir
E um outro momento pra entristecer
Saibamos enfrentar tudo a sorrir

Porque tudo tem um dia pra morrer
Tomemos então isso sempre a rir
E façamos com amizade outro viver.

Manuel F. C. Almeida

domingo, julho 28, 2019







Quando sentes que a terra te foge e levitas no ar, como uma folha seca,
Quando o amanhã se pinta de nevoeiro e da cor das pedras anónimas da colina
É tempo de te fechares por uns instantes num casulo e transformares os dias
Em momentos de primavera onde a vida se renova e a terra volta
Aos teus pés.


Manuel F.C. Almeida







quarta-feira, fevereiro 20, 2019
















Eu não creio em amores eternos
Nem em vida sem mudanças
A eternidade é muito tempo
E a cada momento tudo muda
Não tenho, pois, a ilusão
Que o olhar fique preso
Ou que o sentir se congele
Num tempo sem tempo
Num oceano sem marés
Num viver sem acontecer.

Sejamos então imortais
Do nascer até morrer

Manuel F. C. Almeida

terça-feira, dezembro 11, 2018
















Já nem recordo a idade,
Só a beleza indomável do teu rosto,
Que se mostrava ansioso
E nunca estava presente,
Engalanado pelo teu cabelo
Negro e por um olhar de amêndoas
Que teimava em não pousar
Na terra.
Já nem recordo se eras assim
Ou se eram os meus olhos
Que te construíam.

Manuel F. C. Almeida

terça-feira, dezembro 04, 2018






















Levantei-te nas minhas mãos Ao findar do dia,
Quando a noite toma conta das horas
E os silêncios se sentam dentro de nós
E nos ensinam a cor das palavras e dos sons.                                                                         
Abraçados, em silêncio tocámos os corpos
E experimentámos o sabor da presença,
No olhar que já não escondemos
E nos inunda com o desejo das mãos
Nuas que nos prendem os corpos aos corpos.

Manuel F.C. Almeida

terça-feira, novembro 27, 2018
















Eu não estou preso a ninguém
Nem sou propriedade privada
Nem quero que haja alguém
Que se sinta por mim agrilhoada

Cresci, envelheci e sempre mudei
Na vida nada fica imutável
Fui feliz e infeliz, quando amei,
E o prazer na vida nunca é estável

Ao sabor do vento asas soltei
Como uma gaivota em tempestade
E se na tempestade me aventurei

Sem rumo certo e sem passado
Quero que os outros possam voar
Em igualdade lado a lado

Manuel F. C. Almeida

quinta-feira, julho 26, 2018



















Tu tens de ser louco. Porquê?
Tu ainda não sabes
Mas pensas na tua vida
E na poesia que te prometeram
O arco iris, o amor, as flores adocicadas
A pele, o cheiro, o sexo, a vida.
Mas sentes que tudo não passa
De um logro
Uma invenção para conter essa raiva
Que cresce todos os dias
Em que te arrastas num mundo sórdido,
Sujo e feio
Em que o teu tempo de vida se consome
Em quimeras e num trabalho qualquer,
Em que te vês escravo e te mantem num limbo
Entre o que és e o que fizeram de ti.

Tu só podes ser louco por não
Meteres uma bala entre os olhos
Ou por te deliciares com um livro de férias
E acordares todos os dias com as costas
Voltadas para quem contigo dorme
E finges não saber que o amor se foi
Que a paixão já se consumiu,
Como um relâmpago na tempestade
E que o sexo é apenas o escape, a máscara
Que um dia colocas-te.
E que nem isso aplaca o ódio que sentes
Em surdina, um ódio de ti, do mundo, dos outros.
E dão-te os jornais e as revistas para te deliciares
Com a vida alheia, com os luxos
De quem nada fez ou faz
E representa melhor que tu
O papel da felicidade.

Manuel F. C. Almeida

quinta-feira, julho 19, 2018



















Ávido de ti
Entrego-me
Sem pensar
E acendo em nós
Um farol
De luxúria
E erotismo
Para me perder e
Naufragar


Manuel F. C. Almeida

quinta-feira, julho 05, 2018


















Quantas vezes
No silêncio do hábito
Se devora a vida,
Se vive sem viver
E sem arriscar
Um caminho,
Apenas e só por medo.
Quantas vezes
Se abandonam os sonhos
A troco de uma existência
Cativa do comodismo,
Cativa da culpa e da consciência
E se criam desculpas
E culpas
Para não agir
Em nome de nós?

Manuel F. C. Almeida

quinta-feira, junho 21, 2018























Abraçados ao tempo
Voamos como folhas
Que o sonho soltou
Ao sabor do vento.
Uma suave melodia
Liberta-se do voo
E como nuvem paira
Sobre as almas coloridas
De quem nunca teve caminhos
Nem criou raízes.
E por momentos sonhamos
Com os frutos que crescem
Nos olhares
E se animam de vida
Nas nossas mãos livres
E nuas 


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, junho 11, 2018






















Gosto da serenidade do teu rosto
Do cheiro a mar dos teus seios
Da eterna suavidade do teu ventre
Do rosa veludo do teu sexo
Gosto do perfume do teu corpo
Daquelas pequenas coisas que
Em segredo se dizem,
Das frases sem linguagem,
Do calor do teu olhar.
Gosto quando as tuas mãos
Me adornam o corpo
E me afagam a alma
E me fazem menino
E me fazem homem
E se algum dia disser que te amo
Não creias em mim
Porque amar não são palavras
Amar é agir.



Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, maio 07, 2018






















Anotei as palavras
Que disseste
Serem nossas,
Protegidas que foram
Da escuridão,
Numa lamparina
Alimentada por pétalas
E grinaldas de fogo.

Para quê?

Tudo se consome
No tempo
E com o tempo
Nem as pétalas
Resistem
Ao hábito


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, fevereiro 27, 2018






















O cantor agitava-se como uma árvore ao vento
Deambulava como um vagabundo por entre
As almas de quem, maravilhado, o ouvia.
Duas garotas soltavam os seios e os anseios
À medida que sorriam por entre galhos e poemas
O suor colava o pó aos corpos e a pele brilhava
Como só brilha a pele de gente feliz.
Dançavam como loucas e os ventres moviam-se
Ao som ritmado dos instrumentos e da voz
A noite transforma as pessoas em gigantes de sombra
E as luzes do palco tornam o olhar sempre belo
Cheirei-lhe o cabelo quando dançaram perto de mim
Eram sedutoras e sabiam isso, e eu estava ali parado
Enfeitiçado pelos corpos e pela música,
Inebriado pelo cheiro daquelas fêmeas ainda jovens
De seios soltos e firmes.
Foi então que me dei conta de que para tipos de 50 anos
A liberdade dos jovens é uma recordação feliz.


Manuel F. C. Almeida

sexta-feira, fevereiro 16, 2018





Todo o caminho é sinuoso
Nada da vida é linear
Em tudo o que fazes
Encontras escolhas
Cruzamentos cegos
Sem Luzes a iluminar
E fazes a escolha certa
Para aquele momento
Certo que é aquele
O trilho a trilhar
E vais caminhando
Pé ante pé
E tudo muda ao teu olhar
Até o caminho que
Tinhas certo
É agora um outro lugar
É esta hora de voltar a escolher
Outro caminho para trilhar
Engalanar o passado
Com orquídeas e rosas
E renovar a vida
Para a celebrar.


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, fevereiro 06, 2018















Desenhar palavras com o silêncio
De quem se olha no olhar dos outros.
Tudo parece simples quando
Tudo parece nosso,
E quem passa nas ruas
Espelha-se no mundo
Quando o tempo pára,
No receio de quem vive
Sem viver em pleno.
Longe de nós o saber já dado.
Sejamos eternamente
Ignorantes
E deixemos que o espanto
Nos guie a mão, a escrita e o olhar


Manuel F. C. Almeida.