Tu
tens de ser louco. Porquê?
Tu
ainda não sabes
Mas
pensas na tua vida
E na poesia que te prometeram
O arco iris, o amor, as flores adocicadas
A pele, o cheiro, o sexo, a vida.
Mas sentes que tudo não passa
De um logro
Uma invenção para conter essa raiva
Que cresce todos os dias
Em que te arrastas num mundo sórdido,
Sujo e feio
Em que o teu tempo de vida se consome
Em quimeras e num trabalho qualquer,
Em que te vês escravo e te mantem num limbo
Entre o que és e o que fizeram de ti.
Tu só podes ser louco por não
Meteres uma bala entre os olhos
Ou por te deliciares com um livro de férias
E acordares todos os dias com as costas
Voltadas para quem contigo dorme
E finges não saber que o amor se foi
Que a paixão já se consumiu,
Como um relâmpago na tempestade
E que o sexo é apenas o escape, a máscara
Que um dia colocas-te.
E que nem isso aplaca o ódio que sentes
Em surdina, um ódio de ti, do mundo, dos outros.
E dão-te os jornais e as revistas para te deliciares
Com a vida alheia, com os luxos
De quem nada fez ou faz
E representa melhor que tu
O papel da felicidade.
Manuel F. C. Almeida
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