quinta-feira, março 03, 2016




















Eu vi uma flor a abrir,

Como uma mão que abre

Um abismo

Ou um canto que solta

A noite

E me trás em surdina

A silhueta ténue de um rio

Onde eu bebo e me perco,

Num cálice de fogo…

Num corpo amordaçado

Pela pele,

Num ventre em leque

Onde mergulho

E me reencontro



Manuel F. C. Almeida


























quinta-feira, fevereiro 25, 2016

















Farto-me com rapidez das coisas

Mundanas e dos poetas graciosos

Que fingem amar em palavras

Repetidas, gastas.

Farto-me com rapidez das pessoas

De plástico, dos sorrisos de botox,

Das lágrimas vertidas na alvura

Inocente do papel

A poesia se é vida animada

Então não pode ser só paz e amizade

Sensualidade, ou figuras

Idilicamente desenhadas

Porque se é vida então é tudo

O que vida tem

Dor, corrupção, guerra, ódio

Álcool, mesquinhez, egoísmo

Posse, vingança, morte, loucura

Insanidade

Porque a poesia é apenas e só

Um espelho cru da humanidade



Manuel Almeida

quinta-feira, fevereiro 18, 2016



















Se a noite cair lesta e triste, se o teu leito se encontrar frio, com ausências e omissões

Sai rapidamente desse torpor acomodado onde te escondes do mundo e volta a mergulhar na cidade, abraça as ruas e beija as estátuas do teu caminho.

Estás só se te sentes só, não procures culpa, porque tal não existe, se alguém se ausentou das tuas noites e dias não deixes que a sua sombra se projecte sobre o teu mundo, faz do teu agir um resgatar do teu sentir.



Manuel F. C. Almeida

quinta-feira, fevereiro 11, 2016

















Eu sou a noite e o dia que lamentam
A vida que lhes corre nos olhos
Sou uma rajada vento e uma tarde de acalmia
Que se unem e levantam numa nuvem de pó
Sou o frio e o calor que nos tomam
As carcaças esqueléticas num arrepio
De frio e de febre

Eu sou o que sempre fui e nunca quis ser
Vencido e vitorioso de um mundo de enganos
Sou caminho e precipício numa arriba qualquer
E pacientemente pinto o meu quadro
De fugas e ilusões.

Sou tudo o que quiserem que seja
Mas nunca saberão o que sou.


Manuel F. C. Almeida

quinta-feira, fevereiro 04, 2016





















Eu vi abrir o
Verso desalinhado
De um tempo sem tempo
Num sonho agitado
Pela magia dos corpos
Em pétalas que se soltam
E caem, como a neve nas ruas
Da cidade febril
Da cidade sem rosto
Da cidade adiada.

E só o corpo é existência
Nas estrofes de um
Poema imaginado
Por um poeta louco, maldito
Por um amante adiado no tempo
Sem face e sem alma

O poema é uma construção
Do teu ego 
No qual tu és centro
E o motor de tudo
E quando acaba de ser escrito
Há sempre algo de novo a escrever

O algo é como o amor
Vive dentro de ti e para ti
E só se resolve no momento
Em que se dá ao mundo....
No momento em que és livre.



Manuel F. C. Almeida

terça-feira, janeiro 26, 2016
















E vejo o teu ventre
Como pétalas de um cravo
Onde o orvalho repousa
E o sonho se desfaz
Em mil pedaços de espuma,
Roubada à maré do nosso
Eterno desejo.


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, janeiro 19, 2016







ELEGIA












Eu queria fechar as palavras
Numa caixa de incensos e mirra
Entre a noite e a madrugada
Que teima em se despir
Num sorriso de luxúria.

Abro os olhos e nada vejo
Sinto apenas o abandono
De um sonho errado.
Como se fora uma asa de vento
À espera de encontrar um local
Onde pousar.

E vejo sorrisos que o nunca foram
Ouço palavras em que não creio
E no reacender da vida
Olho para trás e parto sem receio
Deixo para trás as palavras
Escritas em livros que já não
Leio


Manuel F. C. Almeida












terça-feira, janeiro 12, 2016















O largo guarda as memórias
Das noites coloridas de luar
E cada pedra guarda a história
Dos beijos dados e por dar
É assim este meu largo
Uma tela sem voz, de mil cores
Um mundo dentro mundo
Uma cornucópia de sabores
E quando as sombras caem
E o silêncio se faz sentir
O largo da minha vida
Vive comigo….a sorrir


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, dezembro 29, 2015















Os olhos que me invadem
A pele
Que me tomam como
Abrigo
São os olhos por quem canto
Cantigas de amigo

Habitam o vento e a distância
Silenciosos no beijar
Desnudam-se na pungente
Esperança
De me ter de me tomar

Os olhos de quem ama
Sem falar
De quem, se dá por inteiro
Sem nunca se dar
De quem espera junto ao tempo
O que só o tempo pode dar


Manuel F. C. Almeida




















Na quietude do beijo
O tempo corre,
Os olhos sugam a vida
E os sentidos
Dançam ao som
Dos elementos

Na quietude do beijo
Só o silêncio
Quebra
A viagem ao entardecer.


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, dezembro 22, 2015
















Caídos pelos seios
Os teus cabelos lavram
A pele que se me oferece
E os cheiros que me trazem
São os cheiros a maré e vida
Como ondas de espuma límpida
E eternamente renovada

E o teu corpo eleva-se
Na procura do arco-íris
Na alvorada dos dias
Em que juntamos pétalas
E sonhos

E os teus longos cabelos
Desenham no corpo
Um sulco de ternura e luxúria
O campo perfeito para as flores
Que costumamos plantar.


Manuel F. C. Almeida

quinta-feira, dezembro 10, 2015





















Passei pela vida
Sem nada guardar
Para lá de palavras
E do canto colorido
Das aves tingidas de
Ternura.


Manuel F. C. Almeida

domingo, novembro 29, 2015





















Faço do tempo o meu mestre
De amores e desamores que se pintam
De sorrisos ou de lágrimas.
Como num sonho
Onde os meus olhos cegam
E a luz não é mais
Que o tom da tua pele,
Ao raiar do dia.


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, novembro 23, 2015


















O desejo percorre os corpos
Na clausura da paixão
Onde tudo se descobre.
E o olhar esconde a imensidão
Da noite, onde os dedos se entrelaçam,
Os lábios se perdem
E a luxúria desperta
Em mil formas sonhadas


Manuel F. C. Almeida

domingo, novembro 15, 2015


















Nem das montanhas
Onde escorreu o sangue de mil heróis
Sabemos algo.
Viramos as costas aos nomes
E às feridas. Percorremos sós
As imagens dos mortos
Que nos teimam em habitar
E ao longe, por entre a bruma
E o tempo, espera-nos um corpo
Vivo. Um corpo para celebrarmos
E para esquecermos a morte
 Vertemos memórias todos os dias
E todos os dias se esquecem um pouco
Os olhares dos amigos que já foram…
É a vida a empurrar-nos no seu sentido

quarta-feira, novembro 04, 2015





CANTO DOS AMORES

















Os amantes saciam-se nos corpos
Quando o sangue pulsa no seu ser
E trocam juras de eternidade
Quando a tarde cai, ao anoitecer

E os lábios tocam-se devagar
As mãos dançam até enlouquecer
E os sexos unem-se numa batalha
Em que ambos celebram o viver

Mas na vida nada é eternidade
Tudo tem um princípio e um fim
Se o amor acaba, fica a amizade
Porque só vale a pena viver assim.


Manuel F. C. Almeida

sábado, outubro 31, 2015



ELEGIA











Lentamente olhamos o outro
Cansados até de respirar
E o universo de perfumes exalados
São fogos-fátuos ao luar.
E com a noite os silêncios caem
E no silêncio uma canção faz-se soar
Com uma letra sem palavras
No compasso do respirar
E lentamente nós damos as mãos
Sem chama, sem brilho, sem cantar
E as mãos clamam pelos corpos
No desejo a saciar

E finalmente os corpos adormecem
Embalados neste caminhar
E da dádiva dos corpos
Fica o vazio de se ter dado, sem se dar


Manuel F. C. Almeida

sexta-feira, setembro 11, 2015























Era nossa a noite, a janela abriu-se
E o silêncio instalou-se no olhar
Tacteámos o mundo, cegos
Pela loucura do sangue
E mergulhámos a alma na escuridão
Das estrelas
Os dedos encontraram-se, algures, entre
O espaço dos corpos ansiosos, numa calmaria
Tão límpida como as folhas soltas de um poema
E nem a lua ou o odor dos corpos preencheu
O éter entre o desejo e o pudor
Unos, como arvore e casca
Soltámos a vontade
E vogámos num oceano de luxúria.


Manuel F. C. Almeida

sexta-feira, setembro 04, 2015















Sonho da terra, de carne madura
Teu olhar que encerra a noite mais escura
Nos lábios de rosa que teima em brilhar
Eu deixo os meus beijos para os pintar
E pintamos nos corpos desenhos sem nome
Saciamos na pele a espera da fome



Manuel F. C. Almeida















sábado, agosto 22, 2015

´
















Se os meus olhos não se abrissem
Estaria adormecido a viver nos sonhos
O que as estrelas nos permitem
Procurar… 
Um pouco de paz
E a simplicidade que só
O universo nos traz


Manuel F. C. Almeida