Olha, se quiseres ver o pôr-do-sol
Por entre as vielas e becos da cidade
Não te coloques a meio da estrada.
Segue os passeios até ao jardim mais próximo,
Escolhe um banco qualquer
Junto a um lago com patos e crianças a brincar
E deixa-te levar pela hora do sonho.
Puxa a garrafa de bourbon, que guardas ciosamente
No bolso do casaco, e dá um trago,
Que sempre limpa a garganta e clareia as ideias.
Agora olha bem as sombras que vão caindo,
As jovens mães que vão partindo, levando
As crianças pela mão e te olham curiosas,
Sedentas de uma outra vida que lhes traga
Um sentido qualquer à vida que não desejam.
E o sol que se esgueira pelas árvores
Apresenta-se matizado de ramos e folhas escuras
E tu, aí, sentado nesse banco a beber,
Apenas te interessas pelo som dos patos
Pelo riso, das já poucas, crianças que restam
E pelas jovens mães, que teimam em passar
Desconfiadas da tua pessoa.
Estendes as pernas, coças o queixo por entre a barba
E pousas o olhar para lá de tudo.
Arrumas a garrafa no bolso do caso
E pareces entender que o pôr-do-sol mais não é
Que um sorriso de criança e um sentir
Que no mundo estamos todos ligados.
Manuel F. C. Almeida