Perdidamente
foto by:José Manuel Gouveia
Subitamente ergueu-se. Estava cansado, cansado demais. Olhou as paredes da casa na procura de um ponto onde fixar o olhar. Paredes vazias não lhe permitiam isso. Ouviu o cão a ladrar e o vizinho de cima a escarrar. As manhãs eram sempre assim. Desde há anos que acordava na procura de um quadro que uma noite fugira. Animava-o a secreta esperança que um dia voltasse. A cabeça doia-lhe, era o vinho ele sabia. Vestiu a custa a roupa que não mudava havia dias. Um cheiro a suor, nauseabundo, libertou-se dele.
Pegou a custo na garrafa de vinho e de um trago bebeu o que restava. Olhou-a... vazia. Lavou a cara e ajeitou o cabelo. Decidiu sair de casa. Abriu a porta da rua. À sua frente um carreiro sujo e enlameado convidava a ficar parado. Acendeu uma velha beata que guardara no bolso das calças e lá tomou o seu caminho. Tinha sempre um efeito devastador nos bichos. Gatos ou cães evitavam-no como se fosse o tipo que lhes ministrava injecções mortais e que vivia ao fundo da rua. Um proscrito era como lhe chamavam. Não se incomodava. À muito que assim vivia..
(continua um dia)
Desde aquele dia em que o seu quadro tinha fugido e que se sentia um estranho para o mundo.
Manuel F.C. Almeida
2 comentários:
Mas que quadro seria este a ponto de deixar um homem assim?Seria um quadro com as sombras de uma mulher do passado?Existem pessoas q não conseguem se levantar após uma perda,um golpe ou um fracasso.Bem...Aguardo o próximo capítulo!
Beijinho
Maria
Ora, Sagher, não sabia que era bom de prosa também. Muito bom o texto. Não vou indagá-lo, agora não dá. mas o li e gostei.
Estou aqui para lhe dizer que postei no Galeria e também no Poemas e Canções:
http://poemasscancoes.blogspot.com
e no Doces Poesias
http://docesspoesias.blogspot.com
Um beijo,
Renata
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