Canto da partida
Toda a partida é um adeus definitivo
Quando partes deixas para trás um mundo
Único, que o tempo irá alterar
Tal como te altera a ti
Guardas na memória um local
A que jamais regressarás.
Tudo muda, é assim a natureza das coisas
Até tu mudas e se ao regressares te recordas dos
Cheiros e das pessoas, e tentas repetir os gestos
Repetidos milhares de vezes
Desengana-te, nada é o que foi
Só na tua memória, e mesmo essa não é confiável,
Existe aquele mundo que viste ao partir
Partir é o cortar do cordão umbilical
Com os sítios e as pessoas
É um renovar doloroso do ciclo da vida
Um enterro do passado no tempo
O passado que sonhas encontrar quando regressas
Mas os lugares mudam, os cheiros mudam
As pessoas mudam
E de repente dás-te conta da realidade
E sentes-te um estranho numa terra estranha
Já não pertences ali, até os olhares te agridem
Já não és parte do clã, da matilha
Não és de parte nenhuma.
E ficas parado, desarmado pelas memorias
Que se desmoronam…
Como um castelo de cartas no vento.
Manuel F. C. Almeida
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