olhares
foto by:bart
Crianças. Sempre belas, sempre puras, transparentes. Hoje fui testemunha de um comportamento absolutamente humano em qualquer idade, mas que nas crianças se revela no seu estado de pureza mais genuína. Sem hipocrisias.
Num dos raros convites que recebi para almoçar em casa de amigos fui presenteado com a presença de um outro casal e com a presença de duas maravilhosas crianças de 3 anos de idade. Um, filho do dono da casa e o filho do outro casal. Dois meninos lindos. No decorrer da preparação da sardinhada foram as crianças colocadas num recinto onde poderiam brincar á vontade. As saudades dos tempos em que o meu filho tinha a idade daqueles petizes e a curiosidade levaram-me a estar atento ao comportamento dos mesmos. Inicialmente desconfiados, rapidamente se sociabilizaram e normalmente brincaram como quaisquer crianças. Passados os primeiros momentos de espanto e de prazer, lá voltaram a um registo mais pessoal onde cada um se focou nos objectos que mais interesse lhe despertavam. Ao canto do recinto, um velho boneco há muito abandonado pelo dono, jazia num abandono atroz. Por motivos que só ele deverá saber, eis que a criança visitante se interessa pelo mesmo. Foi o início de um momento genuinamente humano e de rara beleza. No preciso momento em que o visitante pegava no brinquedo e sem ter tido tempo para mais nada que não fosse pegar-lhe, o legitimo proprietário levanta-se e zangado arranca-lhe o boneco das mãos, gritando que o Yuri era dele. Era enorme a sensação de posse que a criança experimentava em relação ao objecto. A luta era inevitável e só a atenção que eu tinha dedicado a ambos impediu que algo de grave ou desagradável acontecesse. Separadas as crianças não esmoreceu a minha atenção sobre os mesmos. O visitante continuou radiante, embora mais distante, a experimentar e a matar a curiosidade que a novidade da casa e do jardim lhe propiciavam. O dono do lugar, ganha que foi a guerra pela posse do seu objecto, rapidamente se cansou do mesmo e o voltou a colocar no devido lugar, ou seja abandonado a um canto. Dei comigo a sorrir e a pensar que no fundo no fundo somos sempre crianças, apenas mais hipócritas. Quantas vezes só fazemos valer a nossa presença junto de outro, quando olhamos e verificamos que esse outro está prestes a partir. Nesses momentos redobramos a atenção e o nosso ego ordena-nos que façamos valer o nosso estatuto de forma a garantir que a presença em causa não deixe de ser presença. E, quantas vezes, depois de termos feito isto, não volta-mos a olhar esse outro com o mesmo tédio e desprendimento que olhávamos antes. Quantas vezes nos arrependemos de ter feito o que fizemos e quantas vezes somos sinceros no assumir destes comportamentos?
Fiquei a pensar em tudo isto durante algum tempo.
Lugares comuns apenas.
Num dos raros convites que recebi para almoçar em casa de amigos fui presenteado com a presença de um outro casal e com a presença de duas maravilhosas crianças de 3 anos de idade. Um, filho do dono da casa e o filho do outro casal. Dois meninos lindos. No decorrer da preparação da sardinhada foram as crianças colocadas num recinto onde poderiam brincar á vontade. As saudades dos tempos em que o meu filho tinha a idade daqueles petizes e a curiosidade levaram-me a estar atento ao comportamento dos mesmos. Inicialmente desconfiados, rapidamente se sociabilizaram e normalmente brincaram como quaisquer crianças. Passados os primeiros momentos de espanto e de prazer, lá voltaram a um registo mais pessoal onde cada um se focou nos objectos que mais interesse lhe despertavam. Ao canto do recinto, um velho boneco há muito abandonado pelo dono, jazia num abandono atroz. Por motivos que só ele deverá saber, eis que a criança visitante se interessa pelo mesmo. Foi o início de um momento genuinamente humano e de rara beleza. No preciso momento em que o visitante pegava no brinquedo e sem ter tido tempo para mais nada que não fosse pegar-lhe, o legitimo proprietário levanta-se e zangado arranca-lhe o boneco das mãos, gritando que o Yuri era dele. Era enorme a sensação de posse que a criança experimentava em relação ao objecto. A luta era inevitável e só a atenção que eu tinha dedicado a ambos impediu que algo de grave ou desagradável acontecesse. Separadas as crianças não esmoreceu a minha atenção sobre os mesmos. O visitante continuou radiante, embora mais distante, a experimentar e a matar a curiosidade que a novidade da casa e do jardim lhe propiciavam. O dono do lugar, ganha que foi a guerra pela posse do seu objecto, rapidamente se cansou do mesmo e o voltou a colocar no devido lugar, ou seja abandonado a um canto. Dei comigo a sorrir e a pensar que no fundo no fundo somos sempre crianças, apenas mais hipócritas. Quantas vezes só fazemos valer a nossa presença junto de outro, quando olhamos e verificamos que esse outro está prestes a partir. Nesses momentos redobramos a atenção e o nosso ego ordena-nos que façamos valer o nosso estatuto de forma a garantir que a presença em causa não deixe de ser presença. E, quantas vezes, depois de termos feito isto, não volta-mos a olhar esse outro com o mesmo tédio e desprendimento que olhávamos antes. Quantas vezes nos arrependemos de ter feito o que fizemos e quantas vezes somos sinceros no assumir destes comportamentos?
Fiquei a pensar em tudo isto durante algum tempo.
Lugares comuns apenas.
Manuel F. C. de Almeida
2 comentários:
Quando dizemos, tantas vezes, que as crianças são verdadeiras,muitas vezes não temos consciência plena do que dizemos! Efectivamente são verdadeiras no mais básico e primitivo comportamento!
O adulto não!
Nós estamos espartilhados por normas e regras sociais, por sentimentos,por vezes,menos bons,que nos tornam cautelosos, calculistas até...egoistas e medrosos também!
Depois existe o outro lado, a consciência pessoal e social,uns têm,outros não...
T
T tese, antitese, sintese
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