sexta-feira, março 07, 2014

(pintura Salvador Dali)

"Resurrection of the Flesh"




















Nesta estrada
Desenhada no centro da alma
Caminho como um louco
E nem o som dos meus passos
Se ouve
No âmago do meu ser
Irrompem vulcões
E a lava estende-se
Como um tapete
De silêncios
E corpos amalgamados
Pelo tempo
E sigo o caminho
Porque o tempo não
Se pode apagar
E ao longe há um monte
De corpos destroçados
Pela ilusória imagem
De futuro.


Manuel F. C. Almeida

sábado, março 01, 2014















Passa o tempo e outro tempo

Vai passando.

Faz-se do sonho

Um engano,

No tempo que a gente tem.

Dia a dia vai

Passando,

O tempo que nunca

Se alcança,

Ficam apenas na

Lembrança

Os dias em que o viver

Nunca deixava que tempo

Passasse sempre a correr.



Manuel Almeida

sexta-feira, fevereiro 21, 2014



















Nunca escrevo poemas de despedida
Porque todos os poemas são lugares
De chegada e de partida
Lamentos de almas que se quedam sós
Palavras e rimas que desatam
Nós
Nunca escrevo poemas de despedida
Porque as palavras nunca dançam sozinhas
E porque as frases são espelhos de vida
Retratos fixados nas linhas do tempo
Momentos parados, gritos de
Lamento

Nunca escrevo poemas de despedida
Mas todos os dias, desenho em poemas
O caminho, ignorado, da inevitável partida.



Manuel F. C. Almeida

terça-feira, fevereiro 18, 2014





















Nunca da ave arranques penas
Porque as penas são o voo
E o voo é sempre o que resta
A quem não cumpre o destino
E entende que a vida é um
Um poema de escolha livre.

Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, fevereiro 12, 2014














Na mesa, o lugar
Do afeto e do prazer
O teu corpo encantado
Ergue-se numa dança
Imortal,
Há séculos repetida
Na solidão do pensar
E no engano da partilha.
Eu assisto ao festim
Do teu corpo
E quando me tomas
Sou apenas a folha
Que um vento te trouxe,
Um perfume na vida
Que abandonas
Quando os tambores
Se calam.
E o teu ventre se cobre
Em mil espasmos.


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, fevereiro 04, 2014






















Ditamos palavras aos outros
Reflexões sobre reflexões
Obscuras ideias da vontade
Estilhaçadas em mil faces
E mil corpos
Que reluzem na luxúria
Do pensar e do sonhar

Num encontro cósmico
Belo e de sentimentais
Desejos egoístas.


Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, janeiro 29, 2014





















Cruzei-me esta manhã com a morte
Estava parada à minha esquina
Pediu-me boleia mas não lhe dei
Porque não tinha a barba feita
E cheirava a sexo. Não dou boleias
Quando cheiro a sexo.
Para a compensar pisquei-lhe o olho
Ela encolheu os ombros.
E acenou-me com os dedos
Descarnados.
Não gostei do gesto
E espetei-lhe o dedo do meio
-toma lá grande vaca.
Sorri, gosto de sorrir pela manhã




Manuel F. C. Almeida

sexta-feira, janeiro 24, 2014





















Ofertei o que sou aos deuses,
Mas não aceitaram.
Escrevi mil cartas de amor,
Que nunca leram.
Esventrei as palavras em poemas
Nunca lidos

Resta-me o sol, o mar
E o canto das aves para
Acreditar que estou vivo.


Manuel F. C. Almeida

quinta-feira, janeiro 16, 2014

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Nunca chores um amor que partiu
Porque outros amores irão surgir
E se alguém de ti fugiu
Outro alguém te fará sorrir

Viver é um encandear de acasos,
Um enfrentar de esquinas ao virar
Uma surpresa em todos os passos
Que damos neste caminhar

Por isso não chores o passado
São só pétalas de eternidade,
Faz da vida um poema, um fado
E abraça sempre a liberdade.


Manuel F. C. Almeida

domingo, janeiro 12, 2014
















Chega-te a mim
Quando te sonho
Agarra todos
Os olhares vazios
Tenho tanto de nada
Que podes levar
Um pouco de mim
Guarda-me numa
Caixa bonita
Forrada com papel
De um qualquer jornal
Assim quando um dia
Me retomares sempre
Terás algo a ler.
Manuel F. C. Almeida

sábado, janeiro 04, 2014



Ergo-me nos ombros
De gigantes
Na cidade adormecida

E as luzes que me ofuscam
Indicam-me o caminho
Ao centro das coisas

Lá talvez encontre
A resposta para todas
As perguntas por fazer.


Manuel F. C. Almeida

sábado, dezembro 28, 2013



O desejo não é feito de palavras
Nem de intenções que se criem
Nos olhos
É algo que cresce ao som da pele
E se reclama nos dedos e nos lábios.
Aspiramos no outro,
A vontade que se dá em crescendo
Às aguas de um rio que
Em nada se detém

O desejo é uma fonte de águas
Límpidas e turbulentas
Do qual a razão está refém.


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, dezembro 24, 2013

Musica
















Conhecer as notas
De dó a dó e todas
As outras.
Ouvi-las vezes sem conta,
Em milhares de tempos
E variações
Retomá-las, dá-las
Ao mundo.
E que o mundo crie
Novos tempos
Novas canções.

Manuel F. C. Almeida

sábado, dezembro 21, 2013















Tudo se passou num corredor sem fim

De um lado vidros, do outro

Imagens passadas.

De um lado o tempo presente

Do outro o tempo passado.

Ao fundo duas portas

Meio abertas

Ou meio fechadas.

E nós caminhávamos

Lado a lado

Com o olhar preso em frente

E os dedos das mãos entrelaçados

Num anuncio de amor que não

Se explica.

E parámos junto às portas

E olhámos nos olhos do outro

E escolhemos cada um a sua porta

Hesitámos um pouco mais

Tudo o que se seguiria seria

Para sempre

E eu nunca gostei de nada

Para sempre

É sempre tempo demais

E as imagens começaram a perder-se

E pelos vidros vi o temporal lá fora

Beijei-te as mãos

E segui o meu caminho

Para sempre

Sabendo que só a morte é para sempre.



Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, dezembro 11, 2013

















Recordo da infância
As gaivotas e os poemas
Do Tejo
O cheiro a brisa do mar
De um local que pouco
Vejo

As gaivotas, sei que escrevem
Os seus poemas
A brisa, sei que esconde
Os seus segredos

E o Tejo que pouco
Vejo
Vai voltar a abraçar-me
E resgatar-me
Do medo.


Manuel F. C. Almeida












sexta-feira, dezembro 06, 2013





















Procurei-te na madrugada
Dos tempos
Nas folhas caídas
Da memória
No canto infindável
Das aves
Nas palavras e letras
Que devagar
Soletrei

Mas tinhas partido
Nas asas de um vento qualquer…
De um vento que não encontrei



Manuel F. C. Almeida

sábado, novembro 30, 2013















Toda a poesia que escrevo
É envolta de silêncios e mistérios
Ficará depois de mim eternamente
Presente, sem código para a decifrar
Sem espaço onde viver
Sem sonhos para cantar
Serão apenas as palavras
De quem se recusa a morrer
Acompanhado.

Manuel F. C. Almeida

terça-feira, novembro 26, 2013


















Passa o tempo
E outro tempo
Vai passando.
Faz-se do sonho
Um engano,
No tempo que a gente tem.
Dia a dia vai
Passando,
O tempo que nunca
Se alcança,
Ficam apenas na
Lembrança
Os dias em que o viver
Nunca deixava que tempo
Passasse sempre a correr.


Manuel Almeida

domingo, novembro 17, 2013



Tenho um caminho secreto


De giestas e loendros

Nas margens do teu olhar

Tenho um caminho secreto

Que desenhei no teu corpo

Numa noite de luar.



Manuel F. C. Almeida