quinta-feira, janeiro 25, 2018
















Dei de mim
Espírito e corpo.
Em todas as telas
De amores.

Em explosões
De mil odores
Escrevi cantos
De alegria.

Com sabor a mar
E cheiro a maresia.

Manuel F. C. Almeida



terça-feira, janeiro 16, 2018




















Na dor nasce a palavra
Sem som e sem passado
Livre, solta, sem amarras
Na angústia destes tempos
Onde o riso se esqueceu
Que viveu aqui
A meu lado.


Manuel F. C. Almeida

sexta-feira, janeiro 05, 2018


















Sou filho das ondas
E é nas marés
Que me podes encontrar.
Naquele momento em
Que me desfaço nas areais
E te encontro os pés
E as coxas nuas;
E te enlaço numa dança
Em segredo
Onde os nossos corpos
Se chocam e se encontram,
Se beijam e se amam,
Como se não houvera
Amanhã.
Sou filho das ondas
Amante das águas
Porque só nelas
Me multiplico
E amo livremente.

Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, dezembro 27, 2017
















Porque teimam em apontar
Caminhos
E dizer que tudo tem um
Sentido
Quando aos meus olhos tudo
É vazio
E apenas o tempo lhes trás
Harmonia
E nem assim é possível fugir
À incerteza
Dos dias previsíveis e frios
De uma existência
Por acaso.

Só ao recordar encontro
Um sentido caótico,
Um vórtice que tudo suga,
As mulheres que passaram,
Os amigos que partiram,
Os familiares que se foram.
E resta-me arrumar o presente
Numa caixa onde a vida
Se ausenta
E me rendo à inevitabilidade
Da morte
Talvez o único sentido da vida.


Manuel F. C. Almeida

quinta-feira, dezembro 21, 2017
















No ocaso dos dias, caminho só
Em direcção ao futuro.
Ali sei que tudo ou nada
Pode acontecer
E é então que me sento
Num lugar qualquer
E Fico desperto ao passar
Das horas e das coisas
Para as cantar e descrever.


Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, dezembro 13, 2017














Não és tu, nem eu
Não é só um relâmpago
É apenas tempo e ser

Não é a corrente do mar
Nem o barco à deriva
É apenas viver

Não é o cansaço
Nem as palavras gastas
É o adormecer

Não é o partir
Nem o chegar
É o acontecer

Não é nada e é tudo
Na equação por
resolver.


Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, dezembro 06, 2017


















As palavras já se gastaram
As flores de mel já morreram.
A vida é apenas parte
Da soma de momentos,
Estilhaços de um todo
Ou de um sonho acordado;
Fragmentos da memória
Perdida no tempo,
Impressa na história.
E as palavras gastas
Jazem nas pétalas
Sopradas ao vento….



Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, novembro 22, 2017

















O cheiro da idade tomou-me
Os sentidos
Percorri contigo velhos
Trilhos
De pés nus e coração
Descarnado
Agora o tempo traz consigo
O som das pedras rolantes
Que se esgueiram
Em nós.



Manuel F. C. Almeida

quinta-feira, novembro 16, 2017


















Espero que a noite me venha visitar quando
Estiver só, e os meus passos se ouvirem
Nas sombras que no crepúsculo se erguem,
Como um murmúrio do tempo,
Que teima em parar as estrelas no olhar
E me trás o sabor de todos os corpos
Que amei.


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, novembro 07, 2017

















Nos meus dias há um trilho
Que começa no corpo
Que se oferece ao prazer.
Um trilho nu,
Onde as arvores e as plantas
Florescem nos olhares
Que se cruzam,
Nos dedos que se tocam,
Nos cabelos soltos ao vento,
Nos seios que se erguem aos céus
E no ventre que dá frutos
Com sabor a ternura
Nos meus dias há um trilho
De diamantes e esmeraldas
Que percorre corpos
Imaginários
E jamais se detém num nome.

Nos meus dias só a liberdade
É existência.


Manuel F. C. Almeida

quinta-feira, novembro 02, 2017


















É do espanto que me alimento
E só nele eu vivo em pleno
Tudo o mais é tédio, hábito
Roupagem social e aparência
E eu posso vestir esse fato
Meses ou anos a fio
Até ao dia em que farto,
De a mim mesmo violentar.
Acabo por partir as amarras,
E procurar outros mares
Onde as ondas sejam leito pra sonhar
E os ventos me permitam voar.



Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, outubro 25, 2017

















Quantos olhares se cruzam por paixão
Ao longo das esquinas da vida?
Quantas vezes amamos e desejamos
No silêncio interior
Não me falem em amores eternos
Não me falem hipocritamente
Em fidelidades da alma
Como se os olhos e os sentidos
Se mantivessem fechados
No confronto com a vida.
Tristes os que se enganam a si mesmos
E abdicam do sabor a viver
Em favor do medo.
Paixões, amores, desejo
São o mote para viver livre
E ter a coragem de pintar a alma
Com tons por criar
É o preço a pagar pela liberdade.

Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, outubro 16, 2017

















No meu sentir
consciente
Neste acontecer
Do real
Já não há
Magia na pele
Nem prazeres
Que se soltam
Dos dedos.

Resta só a liberdade,
De tingir com o arco iris
O viver todos os dias
Sem que os dias
Sejam dias.



Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, outubro 09, 2017





















Aos meus
Olhos
Tudo é arte
E silêncio.
Segredo
E revelação.
Desejo
E sedução.
Luxúria
E prazer.
Aos meus
Olhos
Tudo pode
Acontecer
Na vertigem
Dos sentidos
E na embriaguez
Do instinto
Racional


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, outubro 02, 2017















Neste andamento sonoro
Tingido com cores recriadas
Há um mundo que eu adoro
Feito de imagens passadas
Um mundo por mim construído
Pedra a pedra, passo a passo
De silêncios e ruido
De compasso e contrapasso
De aves e plantas com brilho
E peixes que falam comigo
De caminhos em que o trilho
É feito à medida que o sigo

É pois este o meu segredo
Pintar telas de pureza
Com os sonhos em que o medo
Não rouba o lugar à beleza

Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, setembro 25, 2017
















E aqui estou, no cume de um trilho
Que me conduz a nada
Com vários carreiros à vista
E todos eles enevoados
E eu procuro encontrar neles
As respostas às perguntas que faço
E grito
E penso
E vou ficando velho, como uma casa
Sem gente, onde o anoitecer
Trás o silêncio dos passos que se afastam
E dos corpos que se vão ausentado,
Perdidos na névoa das minhas interrogações.


Manuel F. C. Almeida












segunda-feira, setembro 18, 2017














Na nora os animais
Perdem toda a liberdade de olhar
E agir.
Os cães ladram a seus pés
E o dono vem de quando em vez
Recordar-lhe que a liberdade
Não está ali
E o animal da nora, caminha sem ver
Fazendo cantar os alcatruzes
Que dão vida à vida do dono.
Resignado espera sem sentido
Que o recolham
E o que o jantar seja servido

É tão bom desejar amestrar os outros.


Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, setembro 13, 2017






















Já sabes da história do homem
Que cegou porque lhe pediram?
Cegou, dizem que ficou feliz,
Mas não sei se ficou humano.
Foi uma história estranha sabes;
Mas como todas as histórias estranhas
Esta também teve um fim,
Pegou numa arma e deu um tiro
Na cabeça.
Quem levantou o corpo reparou
Nas correntes e cadeados que
Tinha no lugar de cérebro.
E todos tinham nome:
-Medo!
Agora quem o cegou
Chora a sua morte, mas está vivo
E nunca colocou cadeados em si.


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, setembro 04, 2017














Sentei-me naquela esplanada
Com um livro não mão.
Carregava-o comigo há alguns dias
E não conseguia ler
Qualquer linha.
Teimosamente continuava
Com ele nas mãos
Como se fosse uma extensão de mim.
Pedi um café
E passei os olhos pelas mesas em redor
Uma mulher bonita, sentava-se numa
Das mesas.
Olhei-a descaradamente, sem pudor
Tinha olhos azuis e cabelo curto
As mãos cuidadas, estavam adornadas
Com anéis de várias cores.
Tinha lábios pintados de vermelho

Olhei o livro que me acompanhava
Olhei a mulher inacessível
Paguei o café, acendi um cigarro.
Era tempo de partir.
Só então me dei conta
Que começara a chover


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, agosto 29, 2017





















Ouço o silêncio
Das mãos
Na ausência
De ti.


Manuel F. C. Almeida