segunda-feira, fevereiro 13, 2017













Não!
De corpos me basto eu,
De vontades a minha.
Nada me impele para
Ter outros como adereços
De enfeitar o ego
Ou os olhares sociais.
Sou como sou
E se a liberdade quero
Para e em mim
Pela mesma lutarei
Para todos
Até ao fim.
E se este malmequer
Se desfolhar
Na procura de respostas
Aqui dadas
Resta colar as pétalas caídas
E retomar da vida
As estradas.


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, fevereiro 06, 2017






Canto ao passar dos dias.









Teimo em ficar quieto
Sentado junto à janela
E pensar nas pessoas
Que passam junto a ela
A bocejar e a beber chá
Vindo não se sabe de onde.

O gato teima em me fazer
Companhia, sentado em mim
A olhar pela janela
E a receber a minha mão
Ao correr do corpo.
Só não bebe chá.

Nesta rua da cidade
A minha janela é o meu mundo
Ajeito a manta nas pernas
E o gato ajeita-se nela
Somos velhos companheiros
Sabemos comunicar com os olhos.

A manhã foi-se tal como o chá.
O gato levantou-se para comer.
Encarcerado no meu velho corpo
Aceito a mão que me estende a canja
E com o olhar baço sinto a revolta
De ainda saber o que quero.

O gato voltou a sentar-se
Já não me apetece beber mais chá
Um pombo pousa na árvore em frente
O gato agita-se no meu colo
Mas a idade não nos permite
Sonhar com a vida.


Manuel Almeida

terça-feira, janeiro 31, 2017

















Recorda sempre que já fomos jovens.
Que os dias não tinham horas,
Que agarrávamos o tempo no olhar
Sem que o olhar nos desse
Mais que um minuto.
Recorda como abríamos os braços
E tínhamos o mundo nas mãos.

Começa a ser tempo de despedidas
O olhar é agora um telescópio temporal
Antecipa as horas e torna o tempo tão curto
Que quase sentes chegada a ultima canção
Da vida.
Os braços erguem-se, agora num acto
De liberdade, e milhares de pétalas
Coloridas saem de ti, num perpétuo
Movimento de renascimento e partida.


Manuel Almeida

terça-feira, janeiro 24, 2017


















Entre as tuas coxas
De cetim
E os teus seios
De veludo
Encontrei o que resta
De mim,
E do pouco que achei
Dei tudo.




Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, janeiro 16, 2017






















Não te sabia
Tão singela
Nem do risco
De te ter
Guardada em
Mil poemas
Que só eu
Sei ler
Poemas
De erotismo
E rimas
De sedução
Que nunca
Irás entender
Ou guardar
No coração.

Guardo pois
Do teu olhar
O convite para
Me perder
Num canto
A mel e a mar
No som das marés
A morrer
Nas areias
Que se perdem
No leito de todo
O teu ser
E nos beijos
Adiados
Que são vida
A correr


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, janeiro 09, 2017















E teimo em escrever
Linhas em branco
Sem nada para dizer
Sem nada para pensar.
Olho um corpo que passa
Junto a este meu banco
E recordo vagamente
O som das conversas
Mantidas contigo,
Quando os olhares
Se encantavam
E os sonhos voavam
Mais rápidos que a luz.
Assim é a existência dos
Amantes eternos
Dos que juram o tempo
Sem o tempo escutar
E sem que o olhar
Alcance mais que
Que um momento.


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, janeiro 03, 2017






















Nos corpos vencidos pla luxuria
Há sempre uma flor que se ergue
Um canto, um cravo, um sonho
Uma esquina que se segue

Uma sombra de ternura
Um silencio a crescer
Um desejo que perdura
Um novo mundo a nascer

Saído da dança dos corpos
Numa explosão de prazer.


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, dezembro 27, 2016
















Estanquei em face das palavras, atingido
Pelo significado das frases que dançavam
Diante do olhar e se perfilavam como um todo.
Um conjunto silencioso que ecoava em mim
E me deixava estarrecido. Já nada tinha sentido
Nem o corpo que se chegava ao meu, nem eu ao dela.
Não sentíamos partituras, ou vontade de as ler
Vestimos então o manto do tédio, que caiu sobre nós
Fundindo o tempo e os sentidos e nem o frio
Se fazia sentir. Era um manto de Outono
Sem chama ou canto de encantos.
E assim pintámos os dias e os anos
No adiar silencioso da vida
Onde já nada não faz sentido
E o medo nos impede de mover.


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, dezembro 20, 2016


























Conheço todos os silêncios
Que trazem magia às noites
E me levam no sonho
E nas asas do tempo

Conheço a ternura dos
Teus dedos, a fonte
Dos teus lábios
E imensidão do teu olhar

Conheço assim o canto
Dos corpos unidos na noite
Onde o tempo não tem tempo
E o teu corpo é o meu lar



Manuel F. C. Almeida





























terça-feira, dezembro 13, 2016


















Fixo o olhar num ponto
Perdido no céu
E deixo que a noite te traga
Na suavidade do silêncio.
E quando chegas
Enlaças-me o olhar
E tudo o resto se vai.
Como se um novo universo
Nascesse de ti
E a madrugada
Não mais florisse.



Manuel F. C. Almeida

terça-feira, dezembro 06, 2016


















A aurora encerra

O segredo dos dias

Tal como o deserto

Esconde a vida

Na duna que segue.



Manuel F. C. Almeida


terça-feira, novembro 29, 2016
















É nos teus braços
Que todos os mistérios
Se revelam
E as estrelas se mostram
Cintilantes
Como esmeraldas virgens
Ou diamantes
Pousados nos teus lábios
E a iluminar os teus seios
Num precipício
Que termina
No fogo que o teu ventre
Emana
E onde o meu desejo
Se funde


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, novembro 22, 2016













Podia soletrar “amor” no singular
Mas a verdade em cada ser
É amar no plural
E condenar a vida
Ao conforto do medo

Manuel F. C. Almeida

terça-feira, novembro 15, 2016

























O cintilar dos teus olhos
O ondular do teu ventre
Estão entre a sombra e o canto
Entre a pele e o desejo
Entre a luz e a escuridão
De um sentimento sem nome
Feito de sonho e de ilusão


Manuel Almeida

sexta-feira, novembro 11, 2016
















Flutuas nas asas do tempo
Com receio de te entregar
À voracidade do vento
À imensidão do amar

E devagar te desnuas
No silencio do olhar
E fazes minhas as mãos tuas
E do meu corpo praia mar

Sentidos que se fundem nas horas
Que sempre florescem devagar


Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, novembro 02, 2016

















Não passo de um vagabundo
Neste eterno caminhar
Faço do tempo o meu mundo
Faço do mundo o meu lar

Um lar feito construção
Com asas de sonhador
Todo o meu ser é paixão
Tudo o que faço tem cor

Vou por isso navegando
Gaivota no seu voar
E pouco a pouco encontrando
Novos mundos ao olhar

Serei sempre um vagabundo
Num eterno caminhar
Porque ser livre no fundo
É sentir que todo o mundo

É minha casa e meu lar.


Manuel F. C.  Almeida

segunda-feira, outubro 24, 2016




















O que vejo não é real.
A porta abre-se e nada surge,
No silêncio da noite
Que me tomou os sentidos
E a alma,
Vincada que foi pela ilusão
De quem habita o tempo
Como se o tempo em nada
Tocasse

O que vejo, não é o que está
É sempre o que foi
Mediado pelo tempo e pelos
Sentidos
Cobre-se o olhar com um manto
Invisível
E pretendo acreditar que a vida
É apenas o que se dá

A ilusão dita os passos
De quem quer viver feliz


Manuel F. C. Almeida


segunda-feira, outubro 17, 2016










Quando acordo de manhã
Abro a janela pró mundo
E vejo gente a correr
Numa corrida de fundo
Tomo banho, lavo os dentes,
Faço a barba devagar
Saio prá rua e deparo com
Pessoas sem falar.
Olhos as gentes bem nos olhos,
Que é sitio para se olhar
E o que vejo faz-me triste,
Mortos vivos a andar

Saio prá rua, dou-me conta
Que viver é só um sonho
Vou à tasca lá da esquina
Peço um café e um medronho

Tanta gente em corrida,
Em corrida para a morte
E eu a vê-los passar,
Sou um tipo cheio de sorte
Nada tenho, nada quero
Basta puder respirar
Um café e um cigarro
Um quarto para sonhar
Ao trabalho não me agarro
Não gosto de me arrastar
Numa vida miserável
Sem nada para cantar.

Saio pra rua, dou-me conta
Que viver é só um sonho
Vou à tasca lá da esquina
Peço um café e um medronho

Passa por mim um janota
Tipo cheio de sucesso
Dentro de uma fatiota
Num fato que parece gesso
A mulher abana o cu
E ele tresanda a dinheiro
Entra no seu subaru
É dono do galinheiro
E assim se passam anos
A correr sem respirar
A vida vai-se plos canos
Até a morte chegar.


Saio pra rua, dou-me conta
Que viver é só um sonho
Vou à tasca lá da esquina
Peço um café e um medronho

Chega a hora do almoço
É só tetas a dançar
Viro mais uma cerveja
Perco-me no meu sonhar
E miro aquela mole de gente
Que caminha sem parar
Ao encontro de outro dia
Em que nada vai mudar
E assim se arrastam na vida
Sem nunca saber que fazer
Pra despertar em pleno
E celebrar o viver.


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, outubro 11, 2016















Por vezes sou espelho
E sou miragem
Sou tempo que passou
E se deteve
No vento que passou
Entre a folhagem
E assim voou
Eternamente

Por vezes sou quem sou
Mas sendo outro
Ouço o cântico das marés
Dentro de mim
E sonho com asas
Que não tenho
Com a liberdade
Sem fim

Por vezes sou só aquilo
Que mim fizeram,
Ou o que de mim
Deixei fazer
E nada dou ao mundo
Que permita
Construir de mim
O que sou enquanto “ser”


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, outubro 03, 2016















Já o teu corpo se ergue
Na ventania do desejo
Os olhos fixam um ponto
Nos meus olhos
E os ventres teimam em se mover
Ao ritmo do tempo e do instinto
O poema nasce nos sons
Inteligíveis que se soltam
E se libertam dos corpos
E nos corpos

Não há espaço nem distancia
Não há amanhã ou esperança

Ficamos finalmente inertes
De sorriso nos olhos e
Flores no sexo
Porque só sorri quem ama.
Quem se limita a viver
Conforta o corpo com o corpo
E nem o vento lhe toca a pele
Ou a alma
Basta-lhe a quietude do desejo

Eu olho para dentro de mim
E tu olhas para dentro de ti

E na alvorada tudo se recomeça
E nem o canto das aves se ouve
Ou o azul do céu tem mais valor.
O despertador já tocou
É tempo de embalar o amor
Vestir a roupinha, por a máscara
Sair para rua e andar
Porque a poesia só se escreve
Ocasionalmente e em pudor.



Manuel F. C. Almeida