terça-feira, dezembro 13, 2016


















Fixo o olhar num ponto
Perdido no céu
E deixo que a noite te traga
Na suavidade do silêncio.
E quando chegas
Enlaças-me o olhar
E tudo o resto se vai.
Como se um novo universo
Nascesse de ti
E a madrugada
Não mais florisse.



Manuel F. C. Almeida

terça-feira, dezembro 06, 2016


















A aurora encerra

O segredo dos dias

Tal como o deserto

Esconde a vida

Na duna que segue.



Manuel F. C. Almeida


terça-feira, novembro 29, 2016
















É nos teus braços
Que todos os mistérios
Se revelam
E as estrelas se mostram
Cintilantes
Como esmeraldas virgens
Ou diamantes
Pousados nos teus lábios
E a iluminar os teus seios
Num precipício
Que termina
No fogo que o teu ventre
Emana
E onde o meu desejo
Se funde


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, novembro 22, 2016













Podia soletrar “amor” no singular
Mas a verdade em cada ser
É amar no plural
E condenar a vida
Ao conforto do medo

Manuel F. C. Almeida

terça-feira, novembro 15, 2016

























O cintilar dos teus olhos
O ondular do teu ventre
Estão entre a sombra e o canto
Entre a pele e o desejo
Entre a luz e a escuridão
De um sentimento sem nome
Feito de sonho e de ilusão


Manuel Almeida

sexta-feira, novembro 11, 2016
















Flutuas nas asas do tempo
Com receio de te entregar
À voracidade do vento
À imensidão do amar

E devagar te desnuas
No silencio do olhar
E fazes minhas as mãos tuas
E do meu corpo praia mar

Sentidos que se fundem nas horas
Que sempre florescem devagar


Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, novembro 02, 2016

















Não passo de um vagabundo
Neste eterno caminhar
Faço do tempo o meu mundo
Faço do mundo o meu lar

Um lar feito construção
Com asas de sonhador
Todo o meu ser é paixão
Tudo o que faço tem cor

Vou por isso navegando
Gaivota no seu voar
E pouco a pouco encontrando
Novos mundos ao olhar

Serei sempre um vagabundo
Num eterno caminhar
Porque ser livre no fundo
É sentir que todo o mundo

É minha casa e meu lar.


Manuel F. C.  Almeida

segunda-feira, outubro 24, 2016




















O que vejo não é real.
A porta abre-se e nada surge,
No silêncio da noite
Que me tomou os sentidos
E a alma,
Vincada que foi pela ilusão
De quem habita o tempo
Como se o tempo em nada
Tocasse

O que vejo, não é o que está
É sempre o que foi
Mediado pelo tempo e pelos
Sentidos
Cobre-se o olhar com um manto
Invisível
E pretendo acreditar que a vida
É apenas o que se dá

A ilusão dita os passos
De quem quer viver feliz


Manuel F. C. Almeida


segunda-feira, outubro 17, 2016










Quando acordo de manhã
Abro a janela pró mundo
E vejo gente a correr
Numa corrida de fundo
Tomo banho, lavo os dentes,
Faço a barba devagar
Saio prá rua e deparo com
Pessoas sem falar.
Olhos as gentes bem nos olhos,
Que é sitio para se olhar
E o que vejo faz-me triste,
Mortos vivos a andar

Saio prá rua, dou-me conta
Que viver é só um sonho
Vou à tasca lá da esquina
Peço um café e um medronho

Tanta gente em corrida,
Em corrida para a morte
E eu a vê-los passar,
Sou um tipo cheio de sorte
Nada tenho, nada quero
Basta puder respirar
Um café e um cigarro
Um quarto para sonhar
Ao trabalho não me agarro
Não gosto de me arrastar
Numa vida miserável
Sem nada para cantar.

Saio pra rua, dou-me conta
Que viver é só um sonho
Vou à tasca lá da esquina
Peço um café e um medronho

Passa por mim um janota
Tipo cheio de sucesso
Dentro de uma fatiota
Num fato que parece gesso
A mulher abana o cu
E ele tresanda a dinheiro
Entra no seu subaru
É dono do galinheiro
E assim se passam anos
A correr sem respirar
A vida vai-se plos canos
Até a morte chegar.


Saio pra rua, dou-me conta
Que viver é só um sonho
Vou à tasca lá da esquina
Peço um café e um medronho

Chega a hora do almoço
É só tetas a dançar
Viro mais uma cerveja
Perco-me no meu sonhar
E miro aquela mole de gente
Que caminha sem parar
Ao encontro de outro dia
Em que nada vai mudar
E assim se arrastam na vida
Sem nunca saber que fazer
Pra despertar em pleno
E celebrar o viver.


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, outubro 11, 2016















Por vezes sou espelho
E sou miragem
Sou tempo que passou
E se deteve
No vento que passou
Entre a folhagem
E assim voou
Eternamente

Por vezes sou quem sou
Mas sendo outro
Ouço o cântico das marés
Dentro de mim
E sonho com asas
Que não tenho
Com a liberdade
Sem fim

Por vezes sou só aquilo
Que mim fizeram,
Ou o que de mim
Deixei fazer
E nada dou ao mundo
Que permita
Construir de mim
O que sou enquanto “ser”


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, outubro 03, 2016















Já o teu corpo se ergue
Na ventania do desejo
Os olhos fixam um ponto
Nos meus olhos
E os ventres teimam em se mover
Ao ritmo do tempo e do instinto
O poema nasce nos sons
Inteligíveis que se soltam
E se libertam dos corpos
E nos corpos

Não há espaço nem distancia
Não há amanhã ou esperança

Ficamos finalmente inertes
De sorriso nos olhos e
Flores no sexo
Porque só sorri quem ama.
Quem se limita a viver
Conforta o corpo com o corpo
E nem o vento lhe toca a pele
Ou a alma
Basta-lhe a quietude do desejo

Eu olho para dentro de mim
E tu olhas para dentro de ti

E na alvorada tudo se recomeça
E nem o canto das aves se ouve
Ou o azul do céu tem mais valor.
O despertador já tocou
É tempo de embalar o amor
Vestir a roupinha, por a máscara
Sair para rua e andar
Porque a poesia só se escreve
Ocasionalmente e em pudor.



Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, setembro 26, 2016















Fixo o olhar perdido no tecto.
Sozinho no meu pensamento
Ensaio um passo de dança:
Um tango argentino,
Um charuto cubano
E uma garrafa de medronho,
Que de bebidas estrangeiras
Já estou farto.
Fecho os olhos e o teu corpo
Surge por artes mágicas,
Sentada na mesa do bar
Perna trocada, a fumar
Um vestido decotado
E uma saia generosamente
Curta.
Gosto de te ver assim
Provocantemente livre
E desperta


Manuel Almeida

terça-feira, setembro 20, 2016















Lançamos os corpos
Contra os corpos
Numa luta funesta
E sempre igual
Em casas onde o silencio
Se faz reino
E onde a solidão
Nos sabe a sal.

E nos quartos escondidos
Do olhar
Libertamos as estrelas
Dos sentidos
Fundimos a carne
E os espíritos
No amago de desejo
Já banal.

Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, setembro 12, 2016




















Encontrei-te nas palavras escondidas
De um verso errante
De um livro que o por do sol
Revelou
E nesse verso, nesse estranho verso
Vislumbrei o segredo do poeta.

E assim ficou, guardado no tempo
Como uma crisalida…
Que nunca se deixa descobrir.

Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, setembro 05, 2016
















O espanto
Foge com o tempo
E na minha face
Nascem sulcos
De terra cansada
De terra sem esperança
Sem vida
Sem nada.


 Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, agosto 29, 2016






A Hubble Space Telescope photo of a rapidly spinning neutron star, also known as a pulsar.













Ao pulsar do coração
Sozinho frente às estrelas
Tendo a noite como testemunha
Olhei a humanidade como um todo
E chorei ao descobrir
Que tudo isto era um sonho.


Manuel F. C. Almeida






terça-feira, agosto 23, 2016













Não gosto de me sentir
Enjaulado!
Quer por pessoas
hinos ou bandeiras
Que o mundo nasceu
Sem fronteiras
E sem elas
Foi herdado.
Gosto de cheirar
Poesia!
Livre e sempre
apaixonado,
Pra poder amar a vida,
Ficar com ela
Espantado.
Desejar sempre
Quem queira                                             
Sem me sentir
Enjaulado,
Que ao nascer
Fui dado ao mundo
Para ser livre
E não culpado.



Manuel Almeida

quarta-feira, agosto 17, 2016



























Nunca esqueças
Aquelas horas
Em que fomos livres
Nem os trilhos que
Se foram desbravando
E que pé ante pé
Se foram construindo
Despontando como

Flores, algures no tempo
E no espaço, numa linha
Desenhada por nós de olhos

Bem fechados e
Sentidos despertos,
Numa aventura nossa
Onde toda a paisagem
Existente é o jardim
Do nosso existir
E de que só nós
Sabemos a cor.



Manuel F. C. Almeida


quarta-feira, julho 27, 2016






















Entre silêncios de ouro

Me encontro.

Um de tempo e areia que

Consome em vida

Outro de sonhos e ventos

Que me trazem esperança.



Em ambos habito e resgato

A vontade e a memória,

Dos tempos em que os teus

Passos se faziam leves e me

Pintavam o horizonte com

As cores do arco-íris

Numa partitura de corpos

Que se celebravam comum.





Manuel F. C. Almeida