segunda-feira, outubro 03, 2016















Já o teu corpo se ergue
Na ventania do desejo
Os olhos fixam um ponto
Nos meus olhos
E os ventres teimam em se mover
Ao ritmo do tempo e do instinto
O poema nasce nos sons
Inteligíveis que se soltam
E se libertam dos corpos
E nos corpos

Não há espaço nem distancia
Não há amanhã ou esperança

Ficamos finalmente inertes
De sorriso nos olhos e
Flores no sexo
Porque só sorri quem ama.
Quem se limita a viver
Conforta o corpo com o corpo
E nem o vento lhe toca a pele
Ou a alma
Basta-lhe a quietude do desejo

Eu olho para dentro de mim
E tu olhas para dentro de ti

E na alvorada tudo se recomeça
E nem o canto das aves se ouve
Ou o azul do céu tem mais valor.
O despertador já tocou
É tempo de embalar o amor
Vestir a roupinha, por a máscara
Sair para rua e andar
Porque a poesia só se escreve
Ocasionalmente e em pudor.



Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, setembro 26, 2016















Fixo o olhar perdido no tecto.
Sozinho no meu pensamento
Ensaio um passo de dança:
Um tango argentino,
Um charuto cubano
E uma garrafa de medronho,
Que de bebidas estrangeiras
Já estou farto.
Fecho os olhos e o teu corpo
Surge por artes mágicas,
Sentada na mesa do bar
Perna trocada, a fumar
Um vestido decotado
E uma saia generosamente
Curta.
Gosto de te ver assim
Provocantemente livre
E desperta


Manuel Almeida

terça-feira, setembro 20, 2016















Lançamos os corpos
Contra os corpos
Numa luta funesta
E sempre igual
Em casas onde o silencio
Se faz reino
E onde a solidão
Nos sabe a sal.

E nos quartos escondidos
Do olhar
Libertamos as estrelas
Dos sentidos
Fundimos a carne
E os espíritos
No amago de desejo
Já banal.

Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, setembro 12, 2016




















Encontrei-te nas palavras escondidas
De um verso errante
De um livro que o por do sol
Revelou
E nesse verso, nesse estranho verso
Vislumbrei o segredo do poeta.

E assim ficou, guardado no tempo
Como uma crisalida…
Que nunca se deixa descobrir.

Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, setembro 05, 2016
















O espanto
Foge com o tempo
E na minha face
Nascem sulcos
De terra cansada
De terra sem esperança
Sem vida
Sem nada.


 Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, agosto 29, 2016






A Hubble Space Telescope photo of a rapidly spinning neutron star, also known as a pulsar.













Ao pulsar do coração
Sozinho frente às estrelas
Tendo a noite como testemunha
Olhei a humanidade como um todo
E chorei ao descobrir
Que tudo isto era um sonho.


Manuel F. C. Almeida






terça-feira, agosto 23, 2016













Não gosto de me sentir
Enjaulado!
Quer por pessoas
hinos ou bandeiras
Que o mundo nasceu
Sem fronteiras
E sem elas
Foi herdado.
Gosto de cheirar
Poesia!
Livre e sempre
apaixonado,
Pra poder amar a vida,
Ficar com ela
Espantado.
Desejar sempre
Quem queira                                             
Sem me sentir
Enjaulado,
Que ao nascer
Fui dado ao mundo
Para ser livre
E não culpado.



Manuel Almeida

quarta-feira, agosto 17, 2016



























Nunca esqueças
Aquelas horas
Em que fomos livres
Nem os trilhos que
Se foram desbravando
E que pé ante pé
Se foram construindo
Despontando como

Flores, algures no tempo
E no espaço, numa linha
Desenhada por nós de olhos

Bem fechados e
Sentidos despertos,
Numa aventura nossa
Onde toda a paisagem
Existente é o jardim
Do nosso existir
E de que só nós
Sabemos a cor.



Manuel F. C. Almeida


quarta-feira, julho 27, 2016






















Entre silêncios de ouro

Me encontro.

Um de tempo e areia que

Consome em vida

Outro de sonhos e ventos

Que me trazem esperança.



Em ambos habito e resgato

A vontade e a memória,

Dos tempos em que os teus

Passos se faziam leves e me

Pintavam o horizonte com

As cores do arco-íris

Numa partitura de corpos

Que se celebravam comum.





Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, julho 20, 2016

























Descem sobre nós as sombras
Das palavras ditas em silêncio.
Desenhadas nas gotas de sal
Que nunca nos caem da face
Sorrimos, mascarando a alma
E dando brilho ao olhar
Como uma tela onde todas as cores
Se revelam secretamente vivas
E continuamos como um poema
Entre beijos e abraços coloridos
Entre desejos e sentidos simples
Com palavras esculpidas no tempo
E com pétalas que se soltam
Ao sabor do vento
E se transformam em flor
No encontro proibido dos corpos


Manuel F. C. Almeida

terça-feira, julho 12, 2016





















Escrevo sobre uma tela de flores
Jardim perdido na memória
Tingido pelo sangue da história
No desejo secular de mil amores
Escrevo sobre mim e isso basta
Porque em mim tudo acontece devagar
E até o tempo do verbo amar
Em mim é tempo que se gasta
Escrevo sobre a miragem do deserto
A miragem que caminha a nosso lado
Que faz da nossa vida apenas fado
Com poemas de vida sempre em aberto

Escrevo sobre a vida que escolhemos
Ou antes que nos levam a escolher
Nos dias de ilusão em que o viver
É um espelho do que não queremos,



Manuel F. C. Almeida