quarta-feira, agosto 27, 2014


















Foste um dia o início de tudo
Ficaste preso a mim com algemas invisíveis
Debruadas a ouro e prata com
Diamantes sempre a brilhar
E fomos crescendo juntos,
E juntos separámos o tempo
Passaste a ter o teu tempo e eu o meu
Nada mais quis ter na vida
Um par de algemas cravadas na pele
Indestrutíveis aos tempos e às intempéries

Inevitavelmente um dia serão cortadas
Mas iremos tê-las sempre presentes.


Manuel F. C. Almeida

sábado, agosto 23, 2014


No meu mundo ilusório
Feito de abandono e de vazio
Só os meus sonhos se projectam
De encontro ao azul dos céus
Na espera incerta de um futuro

Sem tempo.


Manuel F. C. Almeida

sexta-feira, agosto 15, 2014




time to sleep
















Apaguem a luz,
A noite acontece ao rasgar
Da esperança e do silencio
Quando o olhar se petrifica
No leito de um rio de águas
Pintadas.
Apaguem o tempo,
O sol deixará de morrer e
O horizonte será apenas
Uma linha muda
Numa tela a convidar
Ao sonho
Apaguem os conceitos
Chega de palavras vãs
Cheias de intenções
Coloridas e prenhes
De interrogações sobre
Nada
Apaguem tudo,
E deixem que o silencio
Nos abrace.


Manuel F. C. Almeida

domingo, agosto 10, 2014

















Há dentro de mim
Um oceano, um deserto
Uma floresta tropical
Uma dor que nunca se alcança
Uma gesto, uma estatua de sal,
Uma eterna procura de ser
Apenas um sonho
Pronto a morrer

Há dentro de mim
Mil imagens escondidas
Mil faces feitas ruína
Mil ventres despedaçados
Mil fantasmas encantados
Pelo canto de mil almas
Que um dia aprisionei

Há dentro de mim
Mil odores e mil sabores
De quem amei

Manuel F.C. Almeida

domingo, agosto 03, 2014





















O luar é nossa testemunha
Daquela noite em que sem pensar
Voltamos ao ponto suspenso
Do nosso olhar.

O luar é nossa testemunha
De um momento único, ímpar
Em que a força dos instintos
Fez o desejo falar

O luar é nossa testemunha
Que um erro de teimar
Não deixa de ser um erro
A reparar.

Manuel F. C. Almeida

















Procuro nas coisas
A simplicidade
Sem mistérios ou verdades
Etéreas
O que é, basta-se
Para se descrever,
Numa tela, num espelho
Ou no reflexo das águas
De um charco.

Simples é o modo de olhar
A complexidade do todo.


Manuel F. C. Almeida.

terça-feira, julho 29, 2014






















No calor do estio,
Recordar o inverno
Frio.
Entregar o corpo
Ao sol do
Verão…

E erguer ao alto
A mão

Na tela pintar,
O sonho de viver
A cantar.
Ler o poema
Parido na
Dor…

Colori-lo de
Amor.

Parar o olhar,
Num corpo de mulher
A dançar.
Dança de ventre
Com cio de
Querer…

Um momento
Qualquer.


Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, julho 23, 2014


















Guardo no segredo dos dedos
A ternura que me deixaste pintar
No silêncio do deserto
Na distância do olhar

E na nostalgia dos tempos
Esculpida em mil em segredos
Guardo o canto dos ventos
E a face de todos os medos

E sempre neste silencio
Nesta angustia enfeitiçada
Olho a tua face na lua…pintada

E quando despido de mim
E sem telas pra pintar
Fico só com a memória…do teu beijar


Manuel F. C. Almeida

quinta-feira, julho 17, 2014





















Só o cantar das aves
O sol da madrugada
E o espelho das águas
Me devolvem
A frescura do teu corpo
Tomado
Entre tempos
E dias sem fim.

Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, julho 09, 2014

















Olhar nas águas paradas
Um reflexo de luar
Uma gota que se solta da face
Pequenas ondas de mar
O caminho desbravado
E encontro a caminhar
Nesse enlaçar apertado
De um tempo sem lugar.

E bebemos nos lábios do outro

O desejo a desertar.

Manuel F. C. Almeida

sábado, julho 05, 2014












A PARTIR DE ALLAN PARKER

Toco-te ao amanhecer
No silêncio de um olhar
Nos lábios onde se pinta
O sonho
E se bebe a eternidade
De um universo criado
Nas asas da liberdade.



 Manuel F. C. Almeida.

domingo, junho 29, 2014











Decifrar o corpo
Devorar o medo.
É esse o trabalho
Do tempo

Aos homens
Resta  ser
A fragrância
Consumida
No acontecer.



Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, junho 16, 2014





















E ainda assim
Dizemos que amamos
E soltamos suspiros.
Olhamos o tecto
E acendemos cigarros.
Lavamos os sexos
E os dentes
Vestimos roupas
E saímos rua fora
Como se o que de
Mais belo a vida tem
Fosse motivo
De culpa.

Manuel F. C. Almeida

quinta-feira, junho 05, 2014

















Guardado no peito
Trago comigo o som
Triste das ondas e das marés
O silêncio de oiro
Dos barcos na maré-alta
E um olhar que um dia
Foi perdido
Por entre a violência das ondas
E o naufrágio
De acontecer

Guardado no peito
Trago os segredos
Do meu viver


Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, maio 28, 2014




















E um dilúvio derramou-se
No meu tempo de vida
Sou o verdadeiro canibal
Da minha existência

Abri chagas nos olhos
Do tamanho dos corações
Que tomei nas mãos

Cego, cheguei à fronteira
Que separa um rio de outro rio
E tacteei as margens suavemente

Mas só nas águas e na corrente
Senti o aveludar de mil corpos
E assim deixei-me escorregar
Nas águas cálidas dos ventres em chama.



Manuel F. C. Almeida

domingo, maio 18, 2014

















A imagem
No espelho,
A máscara
Da ilusão,
O segredo
Do labirinto:
 A Paixão.

A verdade
Sem pudor,
Despida,
Nua,
O espelho
Que questiona
A realidade:
A vida
Em carne
Tua.

Manuel F. C. Almeida

sexta-feira, maio 09, 2014




















Cruzei-me esta manhã com a morte
Estava parada à minha esquina
Pediu-me boleia mas não lhe dei
Porque não tinha a barba feita
E cheirava a sexo. Não dou boleias
Quando cheiro a sexo.
Para a compensar pisquei-lhe o olho
Ela encolheu os ombros.
E acenou-me com os dedos
Descarnados.
Não gostei do gesto
E espetei-lhe o dedo do meio
-toma lá grande vaca.
Sorri, gosto de sorrir pela manhã



Manuel F. C. Almeida







terça-feira, maio 06, 2014















 Ficas com as palavras presas
Na angustia das manhãs
No silencio da revolta
Que te trás as mãos acesas.
E Alguém ali a teu lado
Num futuro sem futuro
Grita desesperado
- Nada vejo tudo está escuro!

E tu com as mãos atadas
No silencio do teu ser
Palavras amordaçadas
Já te deixaste vencer?

E se soltares essa raiva
Junto com muitos amigos
Vais descobrir a esperança
Vais derrotar inimigos
E no olhar de quem passa
Vai renascer a vontade
De lutar todos os dias
Pela vida em liberdade.

Manuel F. C. Almeida

domingo, abril 27, 2014




















Quando desperto acordo
Comigo os fantasmas
Da terra
 E o silêncio
Que repousa no olhar
De louco que teima
Em habitar o corpo
Que me acompanha
Solta um grito de raiva
E de lamento,
E só a voz da adiada
Da existência
Me volta a adormecer.


Manuel F. C. Almeida

sexta-feira, abril 18, 2014





















Encontrei a terra, o ar, a água e o fogo
E o mistério da vida a resolver
Nos meus olhos brilhavam a chamas
Da terra a arder
A minha imagem revelou-se nas águas
Que tomei nas mãos para beber
O  ar encheu-me os pulmões
E deu-me asas pra crescer
A terra era o meu corpo
Sem o saber.

Somados os elementos
Resulta vida a florescer

Manuel F. C. Almeida