domingo, junho 29, 2014











Decifrar o corpo
Devorar o medo.
É esse o trabalho
Do tempo

Aos homens
Resta  ser
A fragrância
Consumida
No acontecer.



Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, junho 16, 2014





















E ainda assim
Dizemos que amamos
E soltamos suspiros.
Olhamos o tecto
E acendemos cigarros.
Lavamos os sexos
E os dentes
Vestimos roupas
E saímos rua fora
Como se o que de
Mais belo a vida tem
Fosse motivo
De culpa.

Manuel F. C. Almeida

quinta-feira, junho 05, 2014

















Guardado no peito
Trago comigo o som
Triste das ondas e das marés
O silêncio de oiro
Dos barcos na maré-alta
E um olhar que um dia
Foi perdido
Por entre a violência das ondas
E o naufrágio
De acontecer

Guardado no peito
Trago os segredos
Do meu viver


Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, maio 28, 2014




















E um dilúvio derramou-se
No meu tempo de vida
Sou o verdadeiro canibal
Da minha existência

Abri chagas nos olhos
Do tamanho dos corações
Que tomei nas mãos

Cego, cheguei à fronteira
Que separa um rio de outro rio
E tacteei as margens suavemente

Mas só nas águas e na corrente
Senti o aveludar de mil corpos
E assim deixei-me escorregar
Nas águas cálidas dos ventres em chama.



Manuel F. C. Almeida

domingo, maio 18, 2014

















A imagem
No espelho,
A máscara
Da ilusão,
O segredo
Do labirinto:
 A Paixão.

A verdade
Sem pudor,
Despida,
Nua,
O espelho
Que questiona
A realidade:
A vida
Em carne
Tua.

Manuel F. C. Almeida

sexta-feira, maio 09, 2014




















Cruzei-me esta manhã com a morte
Estava parada à minha esquina
Pediu-me boleia mas não lhe dei
Porque não tinha a barba feita
E cheirava a sexo. Não dou boleias
Quando cheiro a sexo.
Para a compensar pisquei-lhe o olho
Ela encolheu os ombros.
E acenou-me com os dedos
Descarnados.
Não gostei do gesto
E espetei-lhe o dedo do meio
-toma lá grande vaca.
Sorri, gosto de sorrir pela manhã



Manuel F. C. Almeida







terça-feira, maio 06, 2014















 Ficas com as palavras presas
Na angustia das manhãs
No silencio da revolta
Que te trás as mãos acesas.
E Alguém ali a teu lado
Num futuro sem futuro
Grita desesperado
- Nada vejo tudo está escuro!

E tu com as mãos atadas
No silencio do teu ser
Palavras amordaçadas
Já te deixaste vencer?

E se soltares essa raiva
Junto com muitos amigos
Vais descobrir a esperança
Vais derrotar inimigos
E no olhar de quem passa
Vai renascer a vontade
De lutar todos os dias
Pela vida em liberdade.

Manuel F. C. Almeida

domingo, abril 27, 2014




















Quando desperto acordo
Comigo os fantasmas
Da terra
 E o silêncio
Que repousa no olhar
De louco que teima
Em habitar o corpo
Que me acompanha
Solta um grito de raiva
E de lamento,
E só a voz da adiada
Da existência
Me volta a adormecer.


Manuel F. C. Almeida

sexta-feira, abril 18, 2014





















Encontrei a terra, o ar, a água e o fogo
E o mistério da vida a resolver
Nos meus olhos brilhavam a chamas
Da terra a arder
A minha imagem revelou-se nas águas
Que tomei nas mãos para beber
O  ar encheu-me os pulmões
E deu-me asas pra crescer
A terra era o meu corpo
Sem o saber.

Somados os elementos
Resulta vida a florescer

Manuel F. C. Almeida

sexta-feira, abril 11, 2014



















Todos temos um local onde
Morar
As ruelas ficam escuras de tanto
Andar
E nunca sabemos o que podemos
Esperar
Um sinal
Uma luz
Uma estrada
Por desbravar
Talvez apenas o tédio
De parecer estar
Sem nunca estar
A vida é breve e sabemos
Que no mundo há sempre
Um local para sonhar
Por mim esperarei…

Até o reencontrar.



Manuel F. C. Almeida

sábado, abril 05, 2014



Percorri todos os cantos desse corpo
Em momentos que se perdem no esquecimento.
Entre o olhar e a distância,
A noite é filha do vento.
Fecho os olhos, e ali estás.
Adormeço só, num sono lento,
E quando chegas nem a mão estendes
Sou apenas só, um teu qualquer momento

Percorri todos os cantos desse corpo
Perdido que fui algures no tempo.


Manuel F. C. Almeida



domingo, março 30, 2014

















E o espelho fez-se névoa
E o dia fez-se ontem.
Nas minhas mãos
O palpitar do teu corpo
Queimava-me os dedos
E incendiava o olhar

Toda a existência é difusa
Todo o tempo confusão
Mas nas minhas mãos
O teu corpo ganha formas
E até com os dedos em chama
Desenho no ar um poema


Manuel F. C. Almeida

segunda-feira, março 24, 2014














Os amantes vivem
No brilho do olhar
E no silêncio
De uma estrela
Que dá luz  
Ao verbo amar



Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, março 19, 2014
















( feito a partir da musica, Não da letra, " o cio da terra"  Milton Nascimento e Chico Buarque .



No calor do estio,
Recordar o inverno
Frio.
Entregar o corpo
Ao sol do
Verão…

E erguer ao alto
A mão.

Na tela pintar,
O sonho de viver
A cantar.
Ler o poema
Parido na
Dor…

Colori-lo de
Amor

Parar o olhar,
Num corpo de mulher
A dançar.
Dança de ventre
Com cio de
Querer…

Um momento

Qualquer.


Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, março 12, 2014





















Suave é o gosto
Do teu corpo.
Ostra que envolve
O falo
Quando os corpos
Se entregam
Em segredo,
Eu calo
A voragem do desejo,
Como dia que se abre
Na neblina
Da madrugada.


Manuel F. C. Almeida

sexta-feira, março 07, 2014

(pintura Salvador Dali)

"Resurrection of the Flesh"




















Nesta estrada
Desenhada no centro da alma
Caminho como um louco
E nem o som dos meus passos
Se ouve
No âmago do meu ser
Irrompem vulcões
E a lava estende-se
Como um tapete
De silêncios
E corpos amalgamados
Pelo tempo
E sigo o caminho
Porque o tempo não
Se pode apagar
E ao longe há um monte
De corpos destroçados
Pela ilusória imagem
De futuro.


Manuel F. C. Almeida

sábado, março 01, 2014















Passa o tempo e outro tempo

Vai passando.

Faz-se do sonho

Um engano,

No tempo que a gente tem.

Dia a dia vai

Passando,

O tempo que nunca

Se alcança,

Ficam apenas na

Lembrança

Os dias em que o viver

Nunca deixava que tempo

Passasse sempre a correr.



Manuel Almeida

sexta-feira, fevereiro 21, 2014



















Nunca escrevo poemas de despedida
Porque todos os poemas são lugares
De chegada e de partida
Lamentos de almas que se quedam sós
Palavras e rimas que desatam
Nós
Nunca escrevo poemas de despedida
Porque as palavras nunca dançam sozinhas
E porque as frases são espelhos de vida
Retratos fixados nas linhas do tempo
Momentos parados, gritos de
Lamento

Nunca escrevo poemas de despedida
Mas todos os dias, desenho em poemas
O caminho, ignorado, da inevitável partida.



Manuel F. C. Almeida

terça-feira, fevereiro 18, 2014





















Nunca da ave arranques penas
Porque as penas são o voo
E o voo é sempre o que resta
A quem não cumpre o destino
E entende que a vida é um
Um poema de escolha livre.

Manuel F. C. Almeida

quarta-feira, fevereiro 12, 2014














Na mesa, o lugar
Do afeto e do prazer
O teu corpo encantado
Ergue-se numa dança
Imortal,
Há séculos repetida
Na solidão do pensar
E no engano da partilha.
Eu assisto ao festim
Do teu corpo
E quando me tomas
Sou apenas a folha
Que um vento te trouxe,
Um perfume na vida
Que abandonas
Quando os tambores
Se calam.
E o teu ventre se cobre
Em mil espasmos.


Manuel F. C. Almeida