segunda-feira, fevereiro 06, 2017






Canto ao passar dos dias.









Teimo em ficar quieto
Sentado junto à janela
E pensar nas pessoas
Que passam junto a ela
A bocejar e a beber chá
Vindo não se sabe de onde.

O gato teima em me fazer
Companhia, sentado em mim
A olhar pela janela
E a receber a minha mão
Ao correr do corpo.
Só não bebe chá.

Nesta rua da cidade
A minha janela é o meu mundo
Ajeito a manta nas pernas
E o gato ajeita-se nela
Somos velhos companheiros
Sabemos comunicar com os olhos.

A manhã foi-se tal como o chá.
O gato levantou-se para comer.
Encarcerado no meu velho corpo
Aceito a mão que me estende a canja
E com o olhar baço sinto a revolta
De ainda saber o que quero.

O gato voltou a sentar-se
Já não me apetece beber mais chá
Um pombo pousa na árvore em frente
O gato agita-se no meu colo
Mas a idade não nos permite
Sonhar com a vida.


Manuel Almeida

Sem comentários: