domingo, janeiro 08, 2012










Elegia sem chama.








Agora tudo parece claro, o olhar foge do olhar
E as palavras banais tomam o lugar do sonho.
Assim se vivem alguns anos, com o conforto
De uma presença útil, uma presença serviçal
A quem se chama meu, como a um copo
Ou uma taça de cristal de segunda qualidade.
E ficamos satisfeitos a espaços, interessadamente
Satisfeitos, passeamos o objeto pela coleira
Invisível da existência socialmente aceite.
Mascaramos os sentidos e os sentimentos
Com palavras de ocasião, esquecemos o prazer,
O riso e a amizade, nesta geometria indecifrável
A que nos submetemos, na vaga esperança
De um dia tudo se resolver, como se por magia
Ou pela arte dos deuses o tédio, e o desinteresse
Não sejam decifráveis no olhar. Mas o que se
Esconde dos olhos nunca se esconde nos gestos.
Ou na falta deles.

Manuel F. C. Almeida

1 comentário:

Ana Flora disse...

Sinceramente escrito, a tua procura, as tuas assunções.. Infelizmente, as pessoas tendem a ser autómatos. Parabéns plos textos!