domingo, dezembro 11, 2011





Amor









Costumava escrever-te poemas.
Poemas em que derramava
O meu sentir, a doçura que
Escondo do mundo e que me
Trespassa o olhar quando te vejo.
Eram poemas de amor, poemas tolos
Como só os poemas de amor o sabem ser.

Costumava cantar o teu corpo
Como se de uma aurora falasse
E espraiava nas palavras o som
Do meu coração.
Eram poemas ternos, de uma ternura
Minha, criada e crescida dentro de mim.

E apaixonei-me pelas palavras
Que te criaram.
Eram minhas, nunca foram tuas.
E como todos nós, apaixonei-me
Pela minha ideia do outro.
Porque o outro vive, tal como todos nós,
Dentro de si e das suas construções
Na liberdade de ser quem é Humano


Manuel F. C. Almeida

3 comentários:

Rute disse...

Este poema dava um debate...será que realmente nos apaixonamos pela NOSSA ideia do outro? Ou será pelo que o outro é, pelo que nos faz sentir?....

Até me ia esquecendo de dizer que gostei imenso do poema. Gostei mesmo muito.

sagher disse...

essa a grande questão colocada sim, mas não deixo de defender que é sempre pela idéia do outro como construção interna e sendo assim quantas vezes à nossa ideia apenas e só corresponde a nossa ideia?

Rute disse...

Penso que a ideia do outro, seja ele quem for, passa obrigatoriamente pela 'coagem' do nosso Eu, da nossa construção e estrutura interna. No entanto, essa análise só por si é um pouco redutora...acredito que o outro nos pode realmente surpreender e não ser reconhecido por essa nossa estrutura interna...

1 beijo e 1 bom fim-de-semana