sexta-feira, outubro 20, 2006

carta













Parei o carro. O som a música de leonard cohen finalmente fazia-se ouvir de forma clara e límpida. Recordo a canção, “ Marianne”. Lá em baixo, o mar batia nas rochas e abraçava-as numa dança sem fim. Olhei em frente Pra toda aquela massa imensa de vida que se perdia diante do meu olhar. Recordo um momento em que me vi tentado a fundir-me naquela imensidão de força. A música trouxe-me de regresso á realidade. Puxei de um cigarro e acendi-o, um velho hábito agora retomado. Aspirei longamente o fumo e senti que não o deveria ter feito. Por entre as nuvens do cigarro a face do meu filho surgiu. Atirei o cigarro fora. Sentei-me numa rocha. Os meus pensamentos voaram
Em direcção ao desconhecido. Uma estrela anunciava a chegada da noite. E eu, ali, sozinho em frente do mar senti que aquele lugar era meu. Fiquei sentado, vencido pelo cansaço, esmagado pela beleza de um momento. Agora a musica era outra, “ bird on the wire”. Deixei-me invadir pela paz do local, pela beleza da música, pelos pensamentos que tingidos de dor se sobrepuseram a tudo. Completamente abstraído do mundo, assim fiquei largos minutos. A música foi-se. O único ruído que chegava era o ruído das ondas. Esse eterno retorno que teima sempre provocar uma certa erosão, desgastando agora um bocadinho depois outro. É agradável ver como a natureza se procura impor mesmo nas mais adversas condições. A recusa em abandonar a sua tarefa deixa-me sempre maravilhado. Senti que era invadido por um momento único de paz, de comunhão com o mundo. Era eu e o mundo e eu era parte desse mundo. Nada de magias, ou de truques. Apenas o sentir quão pequenas são as nossas preocupações face ás tragédias cósmicas. Olhei novamente o céu eram aos milhares as estrelas que cintilavam Para mim. Sorriam, como que a dar-me as boas vindas. Olhei para trás. Sentada uma figura impunha-se na escuridão. Não sei quem era. Ou o que fazia ali. Limitamo-nos a olhar o outro e a comungar daquele momento. Procurei-lhe as mãos. Eram doces e quentes. Sem trocar palavra beijamo-nos. Senti o seu pulsar. O ritmo do seu coração. E fui abraçado.
Ao acordar olhei o mar. Sorri. E de repente dei-me conta que contos de fadas só existem em sonhos. Voltei a olhar o oceano coloquei uma música de bob dilam e parti. Sempre gostei de ouvir aquela canção “ its all over now baby blue”.

3 comentários:

Anónimo disse...

Miúdo, quase sempre tememos o futuro que é desconhecido como é óbvio, mas persistimos em prosseguir ( e ainda bem que assim é).
Por medo desse desconhecido, reduzimos a marcha e criamos adiamentos. Isso não nos beneficiará. Não devemos resistir, mas continuar caminhando decididamente. Devemos perceber o fluxo natural das coisas e colaborar. Deixemos o término ser uma coisa natural. E, devemos lembrar-nos sempre que, depois de um fim há sempre um novo começo...

sagher disse...

sei de tudo isso, embora miudo ainda, a dificuldade está em ter forças para o fazer. muito obrigado.

Anónimo disse...

Fiquei com a sensação de que interpretaste a palavra " miúdo ", como se te estivesse a tratar como uma criança,nada disso, é apenas uma forma carinhosa de tratamento...