sábado, outubro 29, 2005

como se criam verdades falsas

Sendo leitor do DN não deixei de ler a peça “DESAFIOS GLOBAIS AMEAÇAM A EUROPA” do vosso jornalista LUÍS NAVES, em relação à mesma ocorrem-me algumas criticas ao seu conteúdo interno.
Logo no seu intróito o cenário apresentado é o da inevitabilidade do colapso desta Europa social, quer pela via liberal que advoga rupturas, quer pela via reformadora que advoga uma forma mais gradual de retirar aos europeus aquilo que conquistaram.
Convém pois Ter sempre presente que o autor da peça apresenta a questão de forma simplista. E digo isto porque o dever da Europa seria o de exigir, no quadro da globalização, que os países com os quais se assinam acordos de comercio livre, mantenham a mesma exigência em termos sociais que a Europa. Mas tal nunca irá acontecer, e isso deve-se ao facto dos governos representarem interesses económicos que pretendem exactamente o contrário, ou seja pressionar o modelo social europeu provocando a sua falência e provocando a capitulação das conquistas sociais da Europa.
Assim analisemos o que é dito na peça no que concerne ao MODELO SOCIAL. A constatação de que no espaço da UE existem diferentes modelos sociais apenas me sugere que em todo o processo de construção europeia existiu desde o inicio uma ideia; a de que a Europa social teria de desaparecer para que o poder político pagasse aos grupos económicos os favores que lhe deve. Assim aos trabalhadores europeus restará a resignação( tão apregoada por muitos) para que continuem a manter os seus empregos, abdicando dos seus direitos conquistados ( é bom que se recorde isso) na sequência de uma guerra onde perderam a vida milhões de europeus e à qual se seguio um boom económico sem paralelo na história da Europa e onde até a classe política saída do pós guerra verificou que era necessário redistribuir a riqueza de forma sustentada para dessa forma ser possível combater o modelo soviético que tantos encantava por toda a Europa .
Desfeito o império soviético, o capitalismo selvagem tomou finalmente nas mãos o destino do mundo e com o auxilio dos partidos “ socialistas” europeus lançou-se na procura de domínio do mundo contando ainda com o apoio do “ comunistas chineses” ( nome anedótico claro). E assim a Europa social é hoje em dia vista como uma quimera, algo do passado, porque sem o perigo de um sistema alternativo resta aos europeus alterarem no poder o mau com o medíocre.
No que concerne ao EMPREGO afirma o autor da peça, de forma coerente diga-se, que tudo se joga na elasticidade das leis laborais. E isto sendo em parte verdade não é, de forma alguma, toda a verdade. Para que se obtenha uma visão mais racional das coisas convinha que se perguntasse o que pretendem aqueles que advogam leis laborais mais liberais. A pergunta é para quê? Se um funcionário com 55 anos começa a dar sinais de cansaço ou de menor concentração, será despedido nesse paradigma liberal, com um estado que abandonou a protecção social, que lhe resta?
Em relação ao problema da IMIGRAÇÃO não entendo qual a questão. Então não é possível às empresas deslocalizarem-se e aos capitais volatilizarem-se por todo o mundo? Então porque razão não podem as pessoas livremente deslocarem-se de região para região? A coerência dos que defendem a globalização exige-lhe que aceitem isto como um facto necessário.
O ENVELHECIMENTO da Europa, algo preocupante, pode e deve ser compensado com a chegada de gente vinda de outras paragens ou então passar por políticas de reforço das garantias da mulheres em caso de gravidez e para ilustrar isto basta-me citar um conhecido empresário nacional que confrontado com a questão da maternidade nas suas colaboradoras afirmou:
- o melhor contraceptivo que existe são os contratos a prazo.
Ou seja na visão dos grupos económicos o trabalho precário junto das mulheres condiciona a sua disponibilidade para a maternidade. E dizem-se defensores da nacionalidade, dos direitos humanos e da família ( muitos participam ao Domingo na expiação dos pecados semanais).
Assim se ENTENDE a conclusão da peça, comparar a EUROPA à Índia e à China sem questionar algumas das premissas em que assentam essas comparações é apenas dizer parte da verdade. Porque se é verdade que esses países apresentam altas taxas de natalidade e grande vigor económico conviria dar a conhecer aos europeus a base social em que assentam esses modelos e já agora perguntar aos europeus se as ditaduras iraquianas ou afgãs foram assim tão diferentes das economias dos tigres asiáticos e se entendem ser razoável manter relações comerciais com esses países no actual quadro desiguial onde o que se pretende é tonar miseravel a rxistencia humana, mormente dos que ocupam a base da puramide social

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